Na Antigüidade, mais especificamente na época do Império Romano, era imprescindível que um cidadão bem formado tivesse em seu currículo a oratória como matéria básica. Qualquer um que ocupasse um cargo a serviço do império deveria ter conhecimento e fazer bom uso de técnicas para falar em público. E isso não se limitava a políticos e bajuladores palacianos; até o líder de um pequeno grupo de soldados deveria ter alguma habilidade para se comunicar com seus comandados e mantê-los motivados. A boa comunicação era fundamental para o bom andamento do exército.
Hoje em dia essa também é uma atividade cada vez mais requisitada a profissionais das mais variadas áreas de atuação. Até um contador, que antes se limitava a distribuir cópias de relatórios e balanços para comentá-los numa reunião, hoje precisa fazê-lo diante de uma platéia, através de apresentações de power point, com gráficos e tabelas animadas. A freqüência com que somos requisitados a falar diante de uma platéia tem gerado uma procura desenfreada por cursos de técnicas para falar em público.
Isso é maravilhoso, por estimular em nossa cultura uma busca pela revalorização da palavra, tão desgastada numa época em que “uma imagem diz mais do que mil palavras”.. Apesar de nos tornarmos uma sociedade cada vez mais áudio-visual, a palavra ocupa um papel fundamental em nossas vidas e jamais sairá de moda. Basta lembrar que ela foi base de nossa cultura e preservação do conhecimento nos séculos que antecederam o XIX.
Hoje em dia, apesar dos recursos de que um palestrante dispõe em suas apresentações e das telas com um design agradável, são os comentários e a relação das imagens com o conteúdo que fazem a grande diferença.
Por mais recursos que disponha, a habilidade do palestrante é o seu verdadeiro diferencial. Daí a necessidade de cuidar bem do seu estilo. Mas o que é estilo? O que determina o estilo de um orador?
Estilo é a resposta de tudo. Um jeito especial de fazer uma tolice ou algo perigoso. Antes fazer uma tolice com estilo do que algo perigoso sem estilo. Fazer algo perigoso com estilo é o que chamamos de arte.
Muitos consideram falar em público como sendo algo perigoso. Quem consegue fazê-lo com estilo, obviamente o faz com arte.
Uma vez que o ato de falar em público é considerado uma “arte”, podemos pressupor o conhecimento e domínio de técnicas específicas. Qualquer um que as domine pode ser considerado um orador. Mas isso não significa que ele o faça com estilo.
Existe um velho ditado que diz: - Bem começado, meio caminho andado.
Consideramos que um bom curso de oratória deve estimular o aluno a se auto-conhecer e evitar os clichês. Há muitos cursos que ensinam “receitas” de como falar em público, com tipos padronizados de discursos, onde os alunos ensaiam posturas e assumem o estereótipo de um orador. O resultado é uma porção de oradores articulando palavras de maneira carregada, lembrando alguns locutores de futebol, sorrindo incansavelmente, sem a menor naturalidade, fazendo o gênero “simpático”. Enfim, podem ser comparados a um pelotão de soldados uniformizados marchando: Eficientes, mas todos iguais.
Ao contrário do que se imagina, falar em público com estilo é muito simples, mas tudo aquilo que é simples costuma carregar em seu bojo uma certa carga de complexidade. Daí a necessidade de se auto-observar, fazer um levantamento constante de suas experiências pessoais, organizando melhor seu repertório de vida e avaliando as lições extraídas que gerem conceitos, para compartilhar com sua platéia.
Aí reside o segredo do nascimento do estilo de um orador. A capacidade de estabelecer uma intimidade com a platéia, como se estivesse batendo um papo com velhos amigos, se permitindo a dividir com eles seus conhecimentos e vivências. É claro que uma apresentação bem feita, com imagens bem selecionadas e telas bem preparadas ajudam – e muito -a ressaltar a qualidade de uma palestra; mas são meros adornos. São como a moldura de um belo quadro: possuem uma função específica.
São satélites do sol maior que é o orador, pois o ser humano ainda continua sendo o seu melhor efeito especial.
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