Fonte: CP
Sou novamente "patronável" da Feira do Livro de Porto Alegre. Tornou-se rotina. Jornalistas perguntam-me com certa maledicência: "Quantas vezes já foste indicado? Já perdeste a conta?". Como é ser eterno patronável?". Respondo cinicamente que é muito bom: assim ficam falando de mim o tempo todo. Se me escolherem, ninguém falará de mim no ano seguinte. Desta vez, concorro com o Airton Ortiz, que se tornou um excelente aventureiro e autor de narrativas de viagem, mas ainda pode esperar, com a Jane Tutikian, ótima contista, a quem, se fôssemos cavalheiros, deveríamos ceder a vez, e com o Luis Augusto Fischer, que não deveria ter aceitado a indicação, pois chutou o balde no ano passado, em artigo de jornal, discordando duramente do atual sistema de escolha.Concorro também com a Estátua do Laçador, símbolo de Porto Alegre, para a qual serviu de modelo o folclorista Paixão Côrtes, nosso quinto "patronável". Paixão é santanense e colorado como eu. É um agregado fantástico de qualidades. Ano passado, abri meu voto por Carlos Urbim, outro santanense, que acabou eleito. Santana do Livramento está ficando para a Feira de Porto Alegre como o Rio Grande do Sul para a Seleção Brasileira. Já tem gente, feito cariocas e paulistas, reclamando dessa hegemonia. Expliquei para a minha colega carioca Cristiane Freitas que concorrer com o Paixão para um gaúcho é como um carioca enfrentar o Cristo Redentor. Paixão é um ícone do tradicionalismo gaúcho. Junto com Barbosa Lessa e Glauco Saraiva, ele ajudou a construir a tradição que os gaúchos cultuam atualmente como se fosse eterna, recolhendo fragmentos, articulando elementos e compondo o que faltava. Em 1948, ele fundou o CTG 35.
Paixão e Lessa recolheram e fizeram Inezita Barroso gravar quase tudo o que compõe o imaginário gauchesco: "Chimarrita-balão", "Balaio", "Maçanico", "Tatu", "Pezinho" e mais uma mala de garupa do nosso folclore. As más línguas dizem que aquilo que eles não puderam recolher, inventaram. Foram arqueólogos da tradição, compondo uma totalidade a partir de fragmentos. Há um detalhe incômodo: Paixão nunca escreveu um grande livro. Sarney, Ivo Pitanguy e, mais distante, Getúlio Vargas, também não. Todos entraram para a Academia Brasileira de Letras. Pensei em abdicar em favor de Paixão. Pensei também em propor à querida Câmara Rio-Grandense do Livro uma pausa de quatro anos no atual método de escolha.
Seria assim: em 2010, a Câmara escolheria Paixão patrono por decreto. Em 2011, Sérgio Faraco. Em 2012, Sérgio da Costa Franco. Em 2013, Luis de Miranda. Depois disso, poderia voltar ao processo eleitoral. Esses merecem. Há um pessoal exibido que, mesmo tendo feito pouco, não aceita concorrer, pedindo a eliminação do seu nome da lista de indicações de livreiros, distribuidores e editores, responsáveis pela primeira parte da eleição. Um escritor maldito deveria recusar homenagens. Sou um maldito que, embora desprezando prêmios - especialmente o Cágado, todos cozinhados em panelinhas de pressão - ama a Feira de Porto Alegre. Antes de ganhar o Nobel, quero ser patrono na Praça da Alfândega, honraria que me encanta mais. Paixão que me desculpe, vou continuar na disputa
Comentário: O Juremir não fica com vergonha de se auto-candidatar, dizer que é o melhor e que deve ser o patrono? Caracas... cara simples...simples, simples.
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