No século XIX, durante o Período Regencial, que começou logo após a abdicação de Dom Pedro I em 1831, o Brasil passou a viver um dos momentos mais conturbados de sua história. Um vazio de poder instalou-se nas diversas regiões ameaçando a integridade territorial brasileira. As disputas por este espaço nas províncias deflagrou diversos conflitos ideológicos, pois o rompimento com o colonizador e a abdicação do príncipe deixou o Brasil praticamente à deriva.
O Brasil tinha uma carência muito grande de pensadores, teóricos, pela inexistência de instituições de ensino, como universidades, e, mesmo a imprensa ainda era muito fraca e totalmente dirigida à objetivos específicos e ideológicos. As poucas instituições culturais da época, que eram as academias, eram dirigidas principalmente à poesia. Nestes ambientes de leitura e conhecimento funcionavam também para debates políticos, para textos de jornais, deixando de lado a literatura e a busca por teorias que circulavam pelo mundo.
No Rio Grande do Sul não era diferente do Brasil, as únicas instituições que impunham disciplina e educação era a própria família e o exercito. A igreja, que teve muito pouca interferência na formação do Rio Grande do Sul, também não contribuía na busca do conhecimento, pois durante o povoamento do “continente” ficou caracterizado por políticas anticlericais.
Mas a história do Rio Grande do Sul, não pode se desvincular do restante do Brasil e do mundo. As ligações feitas pela “mão invisível do destino” aproximaram exilados de Portugal com os militares exilados do Rio de Janeiro na província. Estes exilados eram militares punidos pelo império, de forma que deveriam prestar serviços na região de fronteira, em permanente conflito com os espanhóis. Estes homens traziam consigo críticas ao Estado Totalitário e, fundaram em Porto Alegre, em 1832, o Partido Farroupilha.
Os registros históricos dos viajantes franceses que estiveram por aqui no século XIX confirmam que a freqüência de homens nas igrejas era muito pequena e que a religião era usada para manutenção da moralidade e dos bons costumes entre as mulheres. A religiosidade recebeu reforço com os imigrantes, principalmente açorianos e italianos.
Ao enviar para a região de fronteira, todos aqueles que o império desejava punir, parecia não se dar conta que estava colocando em um mesmo lugar homens que detinham um mesmo desejo: O fim do estado absolutista, com uma constituição regulando o poder do estado, garantindo liberdade aos indivíduos em termos de oportunidades efetivas, estabelecer o livre comercio, enfim, acabar com o autoritarismo e a centralização do governo. Essa ideologia liberal vinha do pensamento burguês do século XIX, mais especificamente, da França. Logo após a Revolução Francesa, os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade ganharam o mundo.
O pensamento liberal tem no plano das idéias a afirmação da liberdade política e econômica e a igualdade entre os homens. A ideologia de uma sociedade é a ideologia de sua elite dominante, e sua função é de adequar, de justificar e de dar explicações legitimando determinadas situações. Todos os grupos sociais têm uma diferente concepção de mundo, mas sob determinadas condições, ou situações, toma emprestada a de outro grupo social, adotando-a ou adaptando-a como sua.
A difusão do liberalismo no Brasil aconteceu através da Maçonaria*, pelos carbonários* e pela Sociedade “Itália Jovem”, movimento revolucionário que lutou pela independência da Itália e que, derrotados, foram seus líderes exilados no Brasil.
Assim os liberais do sul do Brasil buscaram na ideologia vinda dos pensadores europeus os elementos que se adaptavam a realidade Rio-grandense, com as reivindicações daqueles que faziam a defesa das fronteiras, eram políticos, empresários, chefes militares, e que faziam a manutenção da economia da província. Para isso os chefes farrapos, que eram estes homens responsáveis pela verdadeira existência e resistência da província, buscaram nos pensadores iluministas a base teórica para a revolta.
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