Região de Fronteira, o Rio Grande do Sul foi palco de muitas guerras. A que mais se destaca aconteceu em 1835, terminando em 1845 conhecida por Revolução Farroupilha.
No século XIX, durante o Período Regencial, que começou logo após a abdicação de Dom Pedro I em 1831, o Brasil passou a viver um dos momentos mais conturbados de sua história. Um vazio de poder instalou-se nas diversas regiões ameaçando a integridade territorial brasileira. As disputas por este espaço nas províncias deflagrou diversos conflitos ideológicos, pois o rompimento com o colonizador e a abdicação do príncipe deixou o Brasil praticamente à deriva.
O Brasil tinha uma carência muito grande de pensadores, teóricos, pela inexistência de instituições de ensino, como universidades, e, mesmo a imprensa ainda era muito fraca e totalmente dirigida à objetivos específicos e ideológicos. As poucas instituições culturais da época, que eram as academias, eram dirigidas principalmente à poesia. Nestes ambientes de leitura e conhecimento funcionavam também para debates políticos, para textos de jornais, deixando de lado a literatura e a busca por teorias que circulavam pelo mundo.
No Rio Grande do Sul não era diferente do Brasil, as únicas instituições que impunham disciplina e educação era a própria família e o exercito. A igreja, que teve muito pouca interferência na formação do Rio Grande do Sul, também não contribuía na busca do conhecimento, pois durante o povoamento do “continente” ficou caracterizado por políticas anticlericais.
Presidia a província de São Pedro do Rio Grande do Sul, nomeado pelo poder central, sem apoio de partido político local, Antonio Rodrigues Fernandes de Braga. Não muito diferente dos dias atuais, tal atitude desagradava a elite local, provocando intrigas entre as oligarquias provinciais, que buscavam o poder através das distribuições dos cargos públicos. Em 1831 foi criada a Guarda Nacional, que mesmo pertencendo a uma “segunda linha” do exercito imperial, era melhor aparelhada e permanecia em poder dos chefes políticos locais.
A Revolução Farroupilha não foi um movimento que tenha surgido da noite para o dia, na verdade foi se estruturando ao longo do tempo pela insatisfação daqueles que eram responsáveis pela manutenção do território, bem como pela economia da província.
O movimento encontrou forças principalmente na economia e na política. Diferentemente de outras províncias, cuja produção de gêneros primários se voltava para o mercado externo, como o açúcar e o café, a do Rio Grande do Sul produzia principalmente para o mercado interno. Os principais produtos eram o charque e o couro. As charqueadas produziam para a alimentação dos escravos, indo em grande quantidade para abastecer a atividade mineradora nas Minas Gerais, para as plantações de cana-de-açúcar e para a região sudeste, onde se iniciava a cafeicultura. A região, desse modo, encontrava-se muito dependente do mercado brasileiro de charque, que com o câmbio supervalorizado, e benefícios tarifários, podia importar o produto por custo mais baixo do Uruguai que competia com o abate de gado da região, pondo em risco a viabilidade econômica das charqueadas sul-riograndenses.
Por conseqüência, o charque rio-grandense tinha preço maior do que o charque oriundo da Argentina e do Uruguai, perdendo assim competitividade no mercado interno. A tributação da concorrência externa era uma exigência dos estancieiros e charqueadores, que viam nessa tributação a possibilidade de uma livre concorrência.
Os principais compradores brasileiros que eram os que detinham as concessões das lavras de mineração, os produtores de cana-de-açúcar e os cafeicultores, não viam com bons olhos a idéia de tributação, pois veriam reduzida a lucratividade das mesmas, por aumentar os gastos na manutenção dos escravos.
Devido às disputas territoriais na região de fronteira, o Rio Grande do Sul, nunca foi uma Capitania Hereditária no período colonial e, sim, parte de seu território, desde o século XVII ocupado por um sistema de concessão de terras a chefes militares. Os rio-grandenses, fosse por uma posição estratégica ou por posição geográfica, conviviam com os índios, com os espanhóis, com as disputas permanentes de território, com o nascimento de novas nações, com impérios e repúblicas, com imigrantes que traziam sua religião, sua posição política, ideologias, conviviam ainda com os portugueses exilados e com brasileiros que eram destacados, como punição, para o sul. A monarquia era vista como retrógada, sinônimo de atraso, de autoritarismo e de ignorância social.
Como causas da revolução, baseadas nesses conceitos ideológicos,podemos resumir como:
1. De Ordem Econômica:
Altas taxas alfandegárias; Impostos sobre a terra e produção, recolhidos pelo império; concorrência autorizada no mercado brasileiro da venda de charque argentino e uruguaio; grande circulação de moeda falsa na Província;
2. De ordem militar:
A mal sucedida campanha da Cisplatina, que resultou na independência do Uruguai; descaso da corte do RJ com as condições precárias do Exército no Rio Grande
3. De ordem ideológica:
Decepção com a constituição de 1824 e com o Ato Adicional de 1834 que centralizaram excessivamente o poder na corte; O descaso com a província que historicamente deu seu sangue e comprometeu sua riqueza para defender a fronteira contra as investidas castelhanas; a imposição de um governo sem que fossem consultados os rio-grandenses; as novas idéias liberais vindas da Europa.
4. De ordem religiosa:
Havia um conflito aberto entre a igreja do Rio Grande do Sul e a direção católica estabelecida no Rio de Janeiro.
Um comentário:
excelente texto, objetivo e completo
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