Jim Collins, o mais rigoroso analista econômico americano, diz que as turbulências vão continuar e que os empresários brasileiros são os mais preparados para sair vitoriosos da crise
Se você só puder ouvir um único guru de negócios, ouça Jim Collins. Essa é a opinião unânime dos maiores empresários do mundo que lhe pagam R$ 60.000 dólares por uma palestra de 45 minutos. De cada vinte convites que recebe para falar, Collins recusa dezenove. Seu escritório fica em Boulder, no estado americano do Colorado, longe dos centros financeiros e industriais, nas franjas das Montanhas Rochosas, que ele escala desde a adolescência. Os empresários que querem seus conselhos viajam até Boulder. Collins já publicou quatro livros sobre sucesso e fracasso de empresas, e vendeu 6,5 milhões de exemplares. O mais recente: Como “As Gigantes Caem”, saiu no Brasil pela Campus-Elsevier. Disciplinado, minucioso, não dá palpites nem faz futurismo. Suas opiniões são baseadas em extensas pesquisas de campo que ele próprio planeja e executa. Collins leva até oito anos para escrever um livro. O próximo mostra como os grandes líderes empresariais estão enfrentando os tempos atuais "de tremenda, tremenda, tremenda incerteza".
Como identificar um líder?
O líder canaliza tudo para a causa, a empresa, o país. Para salvar a Xerox, Anne Mul-cahy demitiu e fechou divisões que ela mesma criara. São decisões duríssimas. Como diz Darwin Smith, artífice do crescimento da Kimberly-Clark, se você tem câncer no braço, tenha coragem de cortar o braço fora.
Qual o seu conselho para quem quiser abrir uma empresa na garagem amanhã de manhã?
Não confunda sua empresa com seu produto. A maioria dos seus produtos não vai decolar, mas isso não deve selar o destino de sua empresa. Logo depois da 1ª Guerra Mundial, em1946, a Sony começou a funcionar nas ruínas de um prédio bombardeado em Tóquio, e seu primeiro produto foi uma panela elétrica para fazer arroz. Não deu certo, mas a empresa seguiu em frente. Os oito primeiros produtos lançados por David Packard, o fundador da Hewlett-Packard, também não funcionaram. Os primeiros aviões da Boeing não foram bem-sucedidos e, por um tempo, os funcionários tiveram de trabalhar fazendo móveis, e não aviões. O primeiro filme de Walt Disney foi um fracasso. Seu produto pode fracassar, mas nem por isso sua empresa será um fracasso.
Quais são os maiores mitos sobre os empresários?
O primeiro mito é que são motivados principalmente pelo dinheiro. Gordon Moore e Robert Noyce, fundadores da Intel, não viviam calculando como maximizar o valor das ações. Viviam calculando como duplicar o núme¬ro de componentes num chip semicondutor e produzi-lo a um custo razoável, e assim revolucionaram o mundo. Os melhores líderes empresariais se movem quase do mesmo modo que os artistas. Eles querem criar, construir algo verdadeiramente excepcional, que tenha impacto no mundo. Steve Jobs, da Apple, é um exemplo. Fazer o iPad é como pintar um quadro. E uma criação. O segundo mito é que os melhores empresários americanos são caubóis indisciplinados, franco-atiradores, que fazem apostas pesadas sem maiores reflexões, e que nossos melhores empreendedores são malucos criativos. Na verdade, eles são construtores. Disciplinados e sistemáticos. Eles canalizam a motivação inovadora e criativa na construção de uma empresa, o que multiplica seu impacto.
Os malucos criativos não vão longe?
A criatividade serve para começar, mas, se o maluco criativo não tiver um lado de construtor, de organizador, ele ficará no meio do caminho. Sam Walton, fundador do Walmart, começou com uma loja de esquina. Após sete anos, abriu uma segunda loja. Depois, mais sete. Em 25 anos, tinha centenas de lojas. Era disciplinado e sistemático. Sam Walton dizia que tinha a personalidade de um promotor de vendas e de um criador, mas a alma de um operador. A habilidade de operar, de construir, de organizar um sistema é que o levou tão longe. Não se fala muito disso porque é chato, requer disciplina, paciência, esforço, mas essa é a verdadeira história do sucesso americano.
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