domingo, 6 de novembro de 2011

Chocolate com Pimenta - Parte I

Bate-papo com Jeferson Camilo, o Dom Camilo, que está em Foz do Iguaçú e nos cedeu uma entrevista exclusiva via internet. Conheça um pouco daquele que contribuiu  com a produção do Livro de Danças Tradicionais do MTG.

Quem é Dom Camilo?

Um ser humano, cheio de falhas e manias, disposto a preservar amigos,  apaixonado pelo mundo e suas diversas culturas. Me considero polemico onde a polêmica deve existir, sem medo de ganhar, perder, conquistar ou doar, pois meu maior orgulho é poder olhar para meus filhos e dizer que os mais simples troféus conquistados por seu pai foram ganhos sem articular e sem pisar nos outros. Talvez por isso me falte o maior deles, o ENART.

Rogério – Fale sobre sua trajetória no tradicionalismo:

Dom Camilo - Meu caminho iniciou no ensino fundamental e graças a paixão pela dança, declamação e canto, tem sido compensador e a minha rotina até os dias atuais.  Fui da invernada artística da Escola Cilon Rosa em Santa Maria e, antes, do Colégio Pão dos Pobres, onde basicamente tudo começou. Fui dançarino do grupo Raízes e Tangará Canto e Dança, que junto com o grupo Os Muuripás (maior grupo de projeção folclórica da história do Rio Grande do Sul), desenvolveram minha capacidade de criação.

Ainda como dançarino, fiz parte de um dos principais grupos de dança que o CPF Piá do Sul já teve, onde tive o prazer de dançar com dançarinos de extrema qualidade, como Pedro Pedroso, Anderson Donaduzzi, Bebinho, Rodrigo Santori, Sandro Nicoloso dentre outros que a memória já escasseia, mas que certamente ajudaram a tornar minha história vencedora como a deles o fora.

Tive o prazer de acompanhar como vocalista o CTG Sentinela da Querência no ano do seu primeiro vice campeonato estadual, arte essa que gosto muito e em breve, juntamente com a declamação estarei retornando.

Como instrutor e coreógrafo trabalhei em diversos grupos, tendo conquistado vitórias emocionantes nos diversos rodeios e festivais do Brasil. Não os cito aqui para não estendermos muito a prosa e para não olvidar de algum, mas na obra Danças Tradicionais Gaúchas, do qual sou um dos autores, encontra-se relacionados, em sua maioria.

Tive o prazer de, como coreógrafo, criar inúmeras coreografias para grandes grupos de danças tradicionais, tendo como maior orgulho "O laçador" do Lanceiros da Zona Sul (POA), que no ano sagrou-se campeão estadual, juntamente com " Dona de uma saudade" de entrada. Tive o prazer de trabalhar com Robson Cavalheiro, um ícone da criação artística, que com um trabalho que cantava os rios e lagoas do nosso estado, deu ao meu amigo o seu primeiro título estadual de coreografias.

Participei de diversos festivais no Brasil e Europa e como avaliador nos principais rodeios e festivais, incluindo o ENART e outros estaduais. 

Rogerio – Como tu analisa o crescimento técnico dos instrutores de danças e, conseqüentemente, das invernadas?
Dom Camilo -.Houve crescimento técnico? me parece que não. O que na minha simples opinião ocorre, é uma adequação as exigências de um novo conceito de interpretação das referências bibliográficas indicadas pelo movimento. Alguns grupos perderam sua identidade por terem a ambição do titulo maior do ENART, tendo assim o Rio Grande perdido seu regionalismo e sua diversidade nas apresentações das danças tradicionais por seus CTGs.
Novos "instrutores" se reproduzem como uma praga, gerado pelo tecnicismo exagerado que faz de simples "ensaiadores" pessoas credenciadas a falar sobre dança em situações que nem eles sabem do que estão falando. Pessoas estas, que ainda se dão ao direito de criticar e questionar ícones do tradicionalismo em diversas áreas como indumentária, música e principalmente danças tradicionais, esquecendo este termo: ''tradicional", pois, se algo está errado são nossas publicações e não o que a história nos ensina. Não podemos ter medo de lamber nossas próprias feridas
Rogerio – Como tu vê o avaliador, em especial o de danças tradicionais? Como tu selecionarias uma equipe de avaliadores?
Dom Camilo - Uma equipe de avaliadores deve ser composta, acima de tudo, por pessoas que sejam referência no que fazem, conhecedores da arte e não somente de manuscritos e impressos que devem servir para nos ajudar em questões técnicas, básicas do concurso, quando estas forem exigidas. Um avaliador deve ter coragem de decidir. O que ocorre hoje é que existe uma promiscuidade nos relacionamentos de comissões e membros de grupos de danças, o que torna as decisões, muitas vezes, uma questão de simpatia e acesso a informações privilegiadas. Por esse motivo deixei a avaliação, pois nunca tive parcialidade nas minhas decisões, ganhando em troca em algumas situações, quando em palco, "o troco" de alguns companheiros que não conseguem dividir as coisas e ainda pregam mentiras "em boca miúda" nos bastidores dos festivais.
Rogerio – Dos quesitos de avaliação (coreografia, interpretação, harmonia...), quais, na tua opinião, permitem os maiores “pecados” dos grupos?
Dom Camilo - Sem dúvidas a interpretação. Ela tem sido alvo de verdadeiros "assassinatos" por grupos e por avaliadores. Perdeu-se a "alma", o sentimento ficou legado em segundo plano e, foi trocada por uma harmonia exagerada que se assemelha a marcialidade militar e distorce o verdadeiro sentido do "ensaiar a dança".

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabens pela volta das entrevistas com as personagens gaucha.

abraços
valdir Pereira