Quem é Dom Camilo?
Um ser humano, cheio de falhas e manias, disposto a preservar amigos, apaixonado pelo mundo e suas diversas culturas. Me considero polemico onde a polêmica deve existir, sem medo de ganhar, perder, conquistar ou doar, pois meu maior orgulho é poder olhar para meus filhos e dizer que os mais simples troféus conquistados por seu pai foram ganhos sem articular e sem pisar nos outros. Talvez por isso me falte o maior deles, o ENART.
Rogério – Fale sobre sua trajetória no tradicionalismo:
Dom Camilo - Meu caminho iniciou no ensino fundamental e graças a paixão pela dança, declamação e canto, tem sido compensador e a minha rotina até os dias atuais. Fui da invernada artística da Escola Cilon Rosa
Ainda como dançarino, fiz parte de um dos principais grupos de dança que o CPF Piá do Sul já teve, onde tive o prazer de dançar com dançarinos de extrema qualidade, como Pedro Pedroso, Anderson Donaduzzi, Bebinho, Rodrigo Santori, Sandro Nicoloso dentre outros que a memória já escasseia, mas que certamente ajudaram a tornar minha história vencedora como a deles o fora.
Tive o prazer de acompanhar como vocalista o CTG Sentinela da Querência no ano do seu primeiro vice campeonato estadual, arte essa que gosto muito e em breve, juntamente com a declamação estarei retornando.
Como instrutor e coreógrafo trabalhei em diversos grupos, tendo conquistado vitórias emocionantes nos diversos rodeios e festivais do Brasil. Não os cito aqui para não estendermos muito a prosa e para não olvidar de algum, mas na obra Danças Tradicionais Gaúchas, do qual sou um dos autores, encontra-se relacionados, em sua maioria.
Tive o prazer de, como coreógrafo, criar inúmeras coreografias para grandes grupos de danças tradicionais, tendo como maior orgulho "O laçador" do Lanceiros da Zona Sul (POA), que no ano sagrou-se campeão estadual, juntamente com " Dona de uma saudade" de entrada. Tive o prazer de trabalhar com Robson Cavalheiro, um ícone da criação artística, que com um trabalho que cantava os rios e lagoas do nosso estado, deu ao meu amigo o seu primeiro título estadual de coreografias.
Participei de diversos festivais no Brasil e Europa e como avaliador nos principais rodeios e festivais, incluindo o ENART e outros estaduais.
Rogerio – Como tu analisa o crescimento técnico dos instrutores de danças e, conseqüentemente, das invernadas?
Dom Camilo -.Houve crescimento técnico? me parece que não. O que na minha simples opinião ocorre, é uma adequação as exigências de um novo conceito de interpretação das referências bibliográficas indicadas pelo movimento. Alguns grupos perderam sua identidade por terem a ambição do titulo maior do ENART, tendo assim o Rio Grande perdido seu regionalismo e sua diversidade nas apresentações das danças tradicionais por seus CTGs.
Novos "instrutores" se reproduzem como uma praga, gerado pelo tecnicismo exagerado que faz de simples "ensaiadores" pessoas credenciadas a falar sobre dança em situações que nem eles sabem do que estão falando. Pessoas estas, que ainda se dão ao direito de criticar e questionar ícones do tradicionalismo em diversas áreas como indumentária, música e principalmente danças tradicionais, esquecendo este termo: ''tradicional", pois, se algo está errado são nossas publicações e não o que a história nos ensina. Não podemos ter medo de lamber nossas próprias feridas
Rogerio – Como tu vê o avaliador, em especial o de danças tradicionais? Como tu selecionarias uma equipe de avaliadores?
Dom Camilo - Uma equipe de avaliadores deve ser composta, acima de tudo, por pessoas que sejam referência no que fazem, conhecedores da arte e não somente de manuscritos e impressos que devem servir para nos ajudar em questões técnicas, básicas do concurso, quando estas forem exigidas. Um avaliador deve ter coragem de decidir. O que ocorre hoje é que existe uma promiscuidade nos relacionamentos de comissões e membros de grupos de danças, o que torna as decisões, muitas vezes, uma questão de simpatia e acesso a informações privilegiadas. Por esse motivo deixei a avaliação, pois nunca tive parcialidade nas minhas decisões, ganhando em troca em algumas situações, quando em palco, "o troco" de alguns companheiros que não conseguem dividir as coisas e ainda pregam mentiras "em boca miúda" nos bastidores dos festivais.
Rogerio – Dos quesitos de avaliação (coreografia, interpretação, harmonia...), quais, na tua opinião, permitem os maiores “pecados” dos grupos?
Dom Camilo - Sem dúvidas a interpretação. Ela tem sido alvo de verdadeiros "assassinatos" por grupos e por avaliadores. Perdeu-se a "alma", o sentimento ficou legado em segundo plano e, foi trocada por uma harmonia exagerada que se assemelha a marcialidade militar e distorce o verdadeiro sentido do "ensaiar a dança".
Um comentário:
Parabens pela volta das entrevistas com as personagens gaucha.
abraços
valdir Pereira
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