Parte final da entrevista com Jeferson Camilo, um dos autores do Livro Danças Tradicionais do MTG. Questionado sobre estilos de dança, Dom Camilo posicionou-se fortemente, dizendo que o grande problema reside na vaidade das pessoas, em criar o seu espaço, dividindo no movimento.
“Qualquer grupo bem preparado pode ganhar Vacaria, como pode ganhar o ENART, alguns extremistas distanciam isso esquecendo que a virtude está no meio, não nos extremos.” - Camilo completa dizendo que não pode ser modificado a única coisa que ainda nos emociona, nos move e mexe com nossa mais profunda característica: " O AMOR INCONDICIONAL AS TRADIÇÕES GAÚCHAS".
Rogerio – A interpretação, que parece ser subjetiva, ou ela tem técnica?
Dom Camilo - Esse quesito deve ser avaliado por pessoas que tenham sensibilidade para entender propostas, visualizar o belo e se emocionar com essa arte que não é legada a todos. Sua técnica está nas gerações, classes sociais e características regionais, não devendo passar disso, como querem que acreditamos alguns, com receitas prontas de condutas e posturas que nunca fizeram parte de certas culturas locais em nosso estado.
Rogerio - Em época passadas existiam as “escolas” de determinados “professores”. O Livro das danças tradicionais, publicação do MTG, veio a contribuir com a unificação destas “escolas”?
Dom Camilo - O livro veio para retificar alguns termos e algumas nomenclaturas que deixavam dúvidas quanto a execução de alguns do chamados "ciclos" das danças e atualizar pesquisas de suma importância para o entendimento de nossas danças. Discordo que haviam "escolas de determinados professores". O que ocorria, em minha opinião, é que alguns professores eram determinantes nas condutas e características coreográficas de grupos na sala, não criando "modelos a seguir", como ocorre nos dias atuais, porque até nisso éramos mais rigorosos; se um grupo copiava outro, era motivo de duras críticas.
Rogerio – Quais as maiores dificuldades encontradas para a produção de um material padrão sobre as danças tradicionais do RS?
Dom Camilo- A aceitação de alguns que se julgam "melhores" do que aqueles que são responsáveis pela criação desses materiais. Algumas pessoas não conseguem ser colaboradores e/ou executores se seus nomes não estiverem em "neon" em algum lugar de destaque.
Rogerio – Qual a política que tu achas que deve ser adotada por novas equipes artísticas a curto e médio prazo, ou que tu adotarias se fosse o diretor artistico?
Dom Camilo - A política da transparência. Não ter medo de assumir seus erros, ouvindo as opiniões e não se proteger ou ser protegida pelo sistema. Quando houver erros, devem ser os primeiros a admitir, trocando, inovando, mostrando que não há preocupações quanto à quem venha ganhar o festival, mais sim, como esses grupos irão ganhar. Não se pode perder a assência, a alma e tudo o que a dança tradicional trás para a sala. Devemos proteger a arte e não de quem dela depende.
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