Pois quem não arrisca não prova o doce sabor do reconhecimento do público. Foi assim o trabalho de Emerson Luiz Ribeiro, 36 anos, natural de Santa Maria, instrutor campeão do ENART, de diversos rodeios pelo Brasil, pai, marido, e um obstinado pelas coisas da tradição do Rio Grande do Sul. Chamamos Emerson pra uma prosa e ele trouxe um pouco de toda essa experiência para compartilhar com os internautas nessa charla.
Rogério Bastos - Quando começastes no tradicionalismo e quando começastes esta belíssima carreira de instrutor de danças?
Emerson - Iniciei no tradicionalismo aos 11 anos levado pelo meu pai, um grande tradicionalista. Comecei na invernada mirim do CTG Chaleira Preta (Gravataí) no ano de 1985, onde juntamente com meu pai, ajudamos na construção da sede desta grande entidade, na qual tenho muito respeito, pois foi onde dei meus primeiros passos dentro do movimento.
Minha iniciação na dança teve algumas particularidades... meus primeiros instrutores chamavam-se Vilson Charlate de Souza e sua esposa Dna Isabel, pessoas enérgicas e severas, onde algumas vezes saia do ensaio chorando, e ia para casa me queixar para minha mãe (Dna Geine, esta senhora foi quem me ensinou a sapatear).Mesmo assim reconheço o quanto foram importantes para mim, pois lembro-me deles com muito carinho, afinal, foram pessoas que alem de ensinar a dançar (na verdade nunca fui um grande dançarino), me passaram valores que trago para vida.
Desde pequeno, aflorava em mim o espírito de liderança, pois fui “posteiro” (o menino que comandava as danças), desde o grupo mirim, passando por juvenil e encerrando em grupos adultos. Em 1992 começo minha participação no CTG Rancho da Saudade, onde me torno instrutor do grupo adulto no ano de 1997, e neste mesmo ano, tive a honra de ser vice- campeão do FEGART, e continuo a frente deste grupo ate os dias de hoje.
Rogério Bastos - Na função de instrutor, na tua opinião, não seria interessante ser trabalhadas outras questões que não só a dança?
Emerson - Sem duvidas, mas o tempo de um instrutor com um grupo de danças é muito curto, este festival, o ENART, mexe demais com a cabeça de nossos jovens, as pessoas tem um fascínio pelo festival, os integrantes de um grupo de danças praticamente não tem uma vida social, vivem enclausurados em seus galpões preparando suas danças, tem um comportamento extremamente profissional em relação à disciplina e organização, mesmo sabendo que se trata de dançarinos amadores.
Rogério Bastos – Por que não são trabalhadas?
Emerson - Não digo com isso que não trabalho, sem duvida alguma um CTG ainda é um dos poucos lugares para criar um filho, uma ótima opção, e destaco isso sempre que posso, dentro de uma entidade tradicionalista gaúcha podemos ver varias gerações compartilhar de um mesmo ambiente, tendo valores de respeito e tomando como aprendizado.
Desenvolvo dentro de cachoeirinha um projeto voluntario com alunos de escolas municipais, são 2 horas por semana, são crianças extremamente carentes, e que através da dança gaúcha, podem ter uma oportunidade de conhecer melhor nosso chão, nossas “coisas”, nossa origem, já que somos embebedados todos os dias por pagodes, capoeiras, enfim. danças, musicas, culturas que não são nossa. E sem duvida, para algumas crianças, este projeto se tornou uma válvula de escape para não ingressar na marginalidade.
Rogério Bastos - Por que, na tua opinião, é tão difícil se chegar a um consenso quando se trata de danças tradicionais?
Emerson - Tenho para mim que a dança gaucha é muito simples, o homem gaucho e simples, e nossa dança chegou a um ponto onde tudo é muito complexo, as coisas são reinventadas a todo o momento, tenho a impressão que às vezes estão querendo “reinventar a roda”. Tenho dificuldade para entender qual a diferença entre um peão dançar com as mãos unidas às costas, ou solta ao lado do corpo, são algumas definições que causam debates, e isso nos leva a não chegarmos a um consenso com facilidade.
Rogério Bastos - O que tu sugere como motivador para os grupos que estão se preparando pra concorrer em rodeios ou mesmo no ENART?
Emerson - Não existe uma formula mágica para um grupo atingir seus objetivos, nada substitui o ensaio, o dia a dia, não e tão simples conscientizar um grupo de pessoas a comprometer-se com um projeto, a trabalhar em momentos difíceis... Ensaios noturnos em pleno inverno, domingos, feriados, enfim. o dançarino deve realmente querer.
Digo também para meus alunos, que não podemos montar um grupo para ganhar um ENART, apesar de parecer estranho, acredito que devemos montar um grupo para “perder” ENART, pois assim sabemos, o quanto este grupo esta disposto a permanecer junto, pois acredito que as vitorias escondem muita coisa. Um grupo pode vencer um concurso, mas sem uma estrutura solida e pessoa comprometida não se consegue dar seguimento com um trabalho de alto nível.
Entrevista reproduzida
do Portal MTG
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