Era madrugada ainda, do dia 20 de setembro de 1992, quando
eu apeava do cavalo no Parque da Harmonia em Porto Alegre para entrega-lo ao
meu pai, que já estava acampado com os amigos desde a noite anterior. Pareciam
Onofre Pires e Gomes Jardim, entregando a Bento Gonçalves, a Porto Alegre já
sitiada e, com o Presidente da Provincia, deposto. A cena se repetia todos os
anos. Chegava e ia preparar o café de chaleira para tomarmos, de maneira que o
sono não pegasse, pois o cansaço de cavalgar toda madrugada, sem dormir,
tentava dominar o corpo, já “cortado de alça de gaita”, depois de muitos bailes
e fandangos na semana farroupilha.
Sou descendente da fronteira gaúcha, meus avós criaram meus
pais mui ligados aos campos e à vida rural. Passei parte de minha infância em
Bagé, onde aprendi os usos, costumes e valores do nosso povo gaúcho. A indiada
por lá é loca de bagual e, seus descendentes, como diz o ditado, não “caem
longe do pé”. Aprendi cedo a assar churrasco, cevar um bom mate, à bailar nos
fandangos de galpão, dançar em invernada, as lides campeiras, mas acima de tudo
à respeitar e amar meus pais.
Fevereiro de 2003, participávamos de mais uma cavalgada do
mar, juntamente com minha família, só que desta vez havia mais um integrante,
era meu filho, que antes de completar 4 anos já fazia o trajeto comigo pelas
praias gaúchas. Dormíamos em barracas, enfrentávamos chuvas, calor, vento,
frio, todo tipo de intempéries do tempo, mas sempre juntos, meus pais, meu
irmão, alguns amigos, eu e meu filho. São quinze anos de Cavalgadas do Mar em
família e dez, que meu filho participa junto.
Cada um tem sua função dentro do acampamento, durante as
cavalgadas, e esse aprendizado, passa de geração pra geração. Meu pai passa
seus conhecimentos para que eu repasse ao meu filho e ao meu irmão. Tudo que
ele aprendeu com nosso avô que era Carreteira na região de Bagé e das Palmas
(RS). Meu filho nasceu no dia 19/09/1999 (parecia Onofre Pires...), às vésperas do desfile Farroupilha,
um dos mais felizes de minha vida. E já desfilou muitas vezes ao meu lado, de
meu pai, mãe e de meu irmão. O tradicionalismo aproxima as gerações e melhora
as relações de convivência entre as pessoas. Nesse processo, as relações e
interações, ocorreram de maneira natural acontecendo a transmissão de valores, saberes e atitudes que
contribuíram ativamente na construção das nossas vidas e da nossa realidade.
Por isso, hoje, quando meu filho ceva um mate à
preceito, estando ele, pilchado ou não, está repetindo um costume que vem de
várias gerações e que faz da tradição gaúcha algo perene, pois enquanto as
famílias quiserem preservar o respeito e os valores da sociedade, estarão transmitindo para as novas gerações suas tradições mais caras.