No seio do povo, quando uma pessoa
começa a apresentar evidentes sintomas de alguma doença, a primeira providência
da família, via de regra, é obrigar o enfermo a guardar o leito, ou ficar de
molho, isto é, ir para a cama.
Tomada essa providência é lhe
imediatamente ministrado um purgativo, para limpar o corpo e aqui registramos
uma medida muito comum em certas regiões: a pessoa que toma o purgante veste
meias brancas, com objetivo que ainda não conseguimos alcançar.
Muito importante nesta fase é o
chamado resguardo. O enfermo precisa ser preservado de uma série de fatores
que, a juízo dos familiares, possam influir em seu estado de saúde. O ar
encanado, isto é, uma correnteza de ar, é considerado um grande perigo, pois
pode ocasionar um pasmo, um estupor ou um ramo de ar, trazendo como
conseqüência uma boca torta, um pescoço duro e outras conseqüências deste tipo,
até uma paralisia total.
Também como resguardo, deve-se
evitar que o enfermo apanhe sol nas fontes, vento nas costas, ou que ande com
os pés descalços na friagem, pois tais descuidos podem ocasionar uma piora no
seu estado de saúde.
Outra providência tomada de
imediato, principalmente quando há desconfiança que a moléstia seja de origem
pulmonar (resfriado, gripe, pneumonia, etc.) é a da aplicação de um suadouro
que, como o purgativo, também serve para limpar o corpo e obrigar a doença a se
declarar. Se for o caso de uma pontada (pneumonia) a aplicação de ventosas ou
de cataplasmas (geralmente feitos com farinha de mandioca) é o primeiro
remédio.
Assim que a moléstia for detectada,
é ministrada ao paciente a competente medicina caseira, caso alguém da família
tenha habilidades para tal, o que é muito comum. Se isso não for possível,
recorre-se a um entendido de confiança, recomendado por sua fama, amizade ou
por ser o único das redondezas.
Se todas essas providências não
conseguem restaurar a saúde do enfermo, só então, recorre-se a um médico,
lamentavelmente, por vezes, muito tarde.
Quando o doente começa a apresentar
melhoras, obtém permissão para abandonar o leito. Passa, então, a ser alvo de
especiais cuidados, visando seu pronto restabelecimento. Ainda aqui tem vez o
resguardo, onde a dieta tem importante papel. Um resguardo mal feito pode
ocasionar uma recaída, quase sempre de funestos efeitos.
A alimentação passa a ser
controlada. De modo geral compreende: pela manhã um chá de frutas secas, com
leite e bolachas, ou um mingau ralo, geralmente de maisena, araruta e afins.
Como almoço e jantar, nos primeiros dias, apenas uma canja de galinha, de
preferência que esteja velha, pois, diz-se, tem mais sustança.
Nos intervalos das refeições, um
cálice de um tônico reconstituinte familiar, quase sempre feito à base de
vinho, ovo e extrato de um suco vegetal temperado com mel puro. Uma gemada
diária substitui em muitos casos o tônico reconstituinte.
Com o recorrer dos dias a dieta vai
sendo melhorada, caso o paciente apresente evidentes sinais de melhoras e
mostre que seu restabelecimento está a caminho. Mas como demora a chegar o dia
de uma gostosa feijoada...
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