QUAL A VERDADEIRA MÁGICA DO ENART? - por Tiago Soldá -
Faltando 10 dias para o "festival-mor" da nossa cultura artística sul rio-grandense, me peguei pensando em uma coisa relativamente tola, mas que ao me aprofunda mais, encheu-me de dúvidas e indagações: qual a mágica do festival? Porque ele é tão importante para as pessoas?
Outro dia comentei da representação cultural, pessoal e financeira que tem para o RS.... mas, analisando do ponto de vista das pessoas, poxa vida, qual a mágica por trás do festival? Sim, afinal, vamos analisar o seguinte.... e como sempre, vou analisar pelo prisma dos grupos de dança, que é minha vivência diária, seja dançando, seja dando aula, seja atendendo-os em minha loja.
Para se dançar um ENART, cada pessoa faz um grande investimento financeiro. Se pensarmos em pilcha, eventos, rodeios, mensalidades, cartões, etc, podemos pensar que passa tranquilamente dos R$ 2.000,00 ao ano. Seria uma TV LED nova.... uma bela entrada para uma moto.... ou ainda, a garantia de uma temporada de férias na praia (ok, ou na serra para quem mora no litoral, hehehe).
Afora isso, os "malucos" de ENART abdicam da vida pessoal durante meses... tá, sendo mais direto, nos últimos dois meses, é um nível absurdo de ensaios, horas e mais horas longe da família.... (bah, desculpem, acabei de contar uma mentira, pois o pessoal do CTG não deixa de ser da família)..... horas longe dos familiares de sangue vamos dizer assim.
Ah, mais um agravante da insanidade coletiva: o ENART não tem prêmio em dinheiro! Além do custo de transporte, hotel/alojamento/acampamento, musical e outros, o festival não dá um centavinho de premiação para os competidores.
Mas então, qual a explicação para essa mágica que assola o RS todo nos meses de outubro e novembro principalmente? Porque somente se fala nele? Afinal, o cenário é o mais absurdo possível, correto seus maníacos? Pois bem senhores.... acho que tenho a solução deste segredo....
A palavra que define isso é SONHO! E como se cria esse sonho chamado ENART? Simples: coloque dentro de um CTG um bando de loucos que acreditam em um ideal... some a isso a vontade de superação de cada um dos indivíduos que ali estão (e ai reside a diferença de um grupo para outro... o quanto se quer ir bem, afinal, todos tem duas pernas e dois braços....) e acrescente a tudo isso a necessidade do ser humano de competir por algo. Pronto! Tens a receita dessa mágica chamada ENART.
E a grande mágica acontece quando diferentes tamanhos de SONHO se encontram em um único palco: o sonho do menino que nasceu dentro do CTG do interior e sempre quis conhecer o palco do ENART, o sonho de menina pobre que nunca teve uma pilcha mas que tem amigos que a ama e deram a oportunidade dela participar, o sonho do homem que teve a oportunidade de começar muito tarde no Tradicionalismo mas que mesmo assim sonha em ali estar....
O sonho do grupo que nunca ganhou um ENART mas sempre esteve perto de conseguir.... O sonho do grupo que NUNCA dançou o ENART e esta feliz por participar pela primeira vez.... e claro, também o sonho daquele que infelizmente não conseguiu... que chorou, que ficou triste, que sentiu a dor da derrota, mas que levantou a cabeça e vai lá aplaudir de pé aqueles que conseguiram, pois no seu íntimo sabe que, quem lá está é porque mereceu estar, e vale a pena continuar sonhando em um dia compartilhar dentro do palco este momento.
"Quem sempre quer vitória perde a glória de chorar!"
Que graça teria se todos tivessem o mesmo sonhos de vitória? Já disse uma vez e repito: não importa o tamanho dos sonhos... e sim, importa que é NOSSO sonho! 10 dias para o ENART senhores.... vivam intensamente cada segundo, mas lembrem-se: não é o fim, nem o começo.... pois todo ano tem o festival! E graças a nós, cada vez maior, cada vez melhor!
Tiago Soldá
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