lendo o Blog do meu amigo Leo Ribeiro de Souza (http://blogdoleoribeiro.blogspot.com) , adorei a ideia do Xiru Valente que reproduzo aqui, pois tenho certeza que, pelo linguajar, meu pai ao ler vai curtir também:
HORÁRIO DO DIA "D" (DERRADEIRO)
Por: Chiru Valente
00h05 - Estou pelo rancho. Tinha pensado em passar a noite na tasca (zona, casa das tias) dançando uma rancheira. Entretanto, devo confessar que estou mais sério do que criança cagada com esta história de fim de mundo. Então, vou sossegar o lombo por aqui.
04h10 - Não consigo dormir. Cada vento que bate numa tábua mal pregada, me apincho (atiro) pra debaixo do catre (cama). Vou encilhar um mate para ver se passa esta aflição.
06h34 - O sol ainda não apontou. Choveu de balde esta madrugada. O céu está com uma pelegama (nuvens) espalhada pelo firmamento. Ouvi no noticioso que lá pelas bandas do Japão está tudo nos conformes...
07h49 (ou 11 para ás 08) - Já tratei a criação, tirei leite, varri o galpão e agora vou pro café. Coisa pouca pra não morrer de buxo cheio. Pão de milho, coalhada, cuscus, um pouco de feijão mexido que sobrou de ontem, passoca de pinhão, e uns três ovo frito pra sentá as lumbrigas.
08h45 - Como lá fora tá uma chuva guasqueada, coisa de enchê o arroio, fiquei pelo galpão. Acendi um fogo, num pai-de-fogo de angico, falquejei um cabo de relho, e agora vou remendar uns tentos do meu laço. Sempre proseando com a cachorrada.
09h22 - Aproveitando a olada da chuva, dei uma glosada nos cascos do meu mouro velho e, enquanto tosava suas crinas, fiz um versinho:
Se o mundo trocar de ponta,
eu só peço a São Gonçalo,
por ter sido um homem bueno,
que me dê este regalo,
de entrar na estância grande
no lombo do meu cavalo.
10h43 - Bueno! A cosa vai longe. Este aguaceiro está mais comprido que discurso de gago. Então, vou atiçar o fogo, botar uns doi ou três nó-de-pinho, e encostar perto das brasas um vazio e uma costela de ovelha que eu vinha guardando pro natal. Total, pode nem ter natal. Numa caneca de alumínio vou dando umas golpeadas numa azulzinha (canha) que busquei num alambique clandestino, do cumpadre Gervázio, lá por Maquiné.
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