quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A bóia da peonada


Lá pelas décadas de 20/30/40 (sec. XX), nas estâncias em que não havia criação de ovelhas, a carne fresca era escassa. Mesmo para a família do patrão, a não ser que sacrificassem galinhas. Naquela época, não tinha a facilidade de hoje: o recurso de um refrigerador.

A alimentação da peonada era pouco variada; pela manhã sempre tinham um café com leite, servido em copos grandes, alouçados com bolacha. Ao meio dia, comiam o feijão com bastante charque, misturado com farinha de mandioca. Raras vezes lhes serviam arroz. Naquele tempo, arroz e açúcar eram artigos de preço. Além do feijão, tinham a canjica, que era do milho colhido na chácara e socado no estabelecimento. A canjica vinha temperada com o charque, duas vezes por semana. A peonada não gostava de canjica, alegavam ser uma comida fraca, de pouco sustento. 

Quando se carneava uma vaca, isto a cada 28 dias, a peonada, por três dias, comia fervido. No dia da carniça, pela manhã cedo churrasqueavam os matambres. E nas manhãs seguintes assavam as costelas, que faziam as vezes do café. Em época de planta, contavam com o reforço da mandioca e batata-doce. Verdura nunca lhes era servido, mesmo havendo uma boa horta na estância. Os peões não apreciavam verdura, diziam ser alimento para gente fraca, gente do povo (cidade), pois naquilo não tinham o que mastigar. Pela manhã, ao tirar leite, cada peão guardava para si um litro, o qual era "comido" depois do almoço, em prato fundo com bolacha triturada, reservada da ração do café, ou com farinha de mandioca, tudo sem açúcar. Doce nunca era dado aos peões. Por isso, lá de vez em quando, compravam no bolicho rapadura de palha.

A janta era o mesmo que o meio-dia. Às vezes tinham feijão mexido ou pirão de farinha de mandioca, feito com caldo do fervido, o que era muito apreciado. No geral, a peonada gozava boa saúde  sempre estavam bem dispostos para o trabalho e mantinham o bom humor.

Fonte: Raul Annes Gonçalves

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