Lá pelas décadas de 20/30/40 (sec. XX), nas estâncias em que
não havia criação de ovelhas, a carne fresca era escassa. Mesmo para a família
do patrão, a não ser que sacrificassem galinhas. Naquela época, não tinha a
facilidade de hoje: o recurso de um refrigerador.
A alimentação da peonada era pouco variada; pela manhã
sempre tinham um café com leite, servido em copos grandes, alouçados com
bolacha. Ao meio dia, comiam o feijão com bastante charque, misturado com
farinha de mandioca. Raras vezes lhes serviam arroz. Naquele tempo, arroz e
açúcar eram artigos de preço. Além do feijão, tinham a canjica, que era do
milho colhido na chácara e socado no estabelecimento. A canjica vinha temperada
com o charque, duas vezes por semana. A peonada não gostava de canjica, alegavam
ser uma comida fraca, de pouco sustento.
Quando se carneava uma vaca, isto a
cada 28 dias, a peonada, por três dias, comia fervido. No dia da carniça, pela
manhã cedo churrasqueavam os matambres. E nas manhãs seguintes assavam as
costelas, que faziam as vezes do café. Em época de planta, contavam com o
reforço da mandioca e batata-doce. Verdura nunca lhes era servido, mesmo
havendo uma boa horta na estância. Os peões não apreciavam verdura, diziam ser
alimento para gente fraca, gente do povo (cidade), pois naquilo não tinham o
que mastigar. Pela manhã, ao tirar leite, cada peão guardava para si um litro,
o qual era "comido" depois do almoço, em prato fundo com bolacha
triturada, reservada da ração do café, ou com farinha de mandioca, tudo sem
açúcar. Doce nunca era dado aos peões. Por isso, lá de vez em quando, compravam
no bolicho rapadura de palha.
A janta era o mesmo que o meio-dia. Às vezes tinham feijão
mexido ou pirão de farinha de mandioca, feito com caldo do fervido, o que era
muito apreciado. No geral, a peonada gozava boa saúde sempre estavam bem
dispostos para o trabalho e mantinham o bom humor.
Fonte: Raul Annes Gonçalves
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