quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Que saudades, do CTG Querencia, da E.E.Concórdia


No brilho de nossos olhos, o amor pela querência.

Frase criada por Fraga Cirne, virou o lema, do grupo de surdos do CTG Querencia da Escola Concórdia da capital

Em novembro de 1983, alguns alunos da Escola Concórdia assistiram a apresentação de um grupo de danças folclóricas do Rio Grande do Sul. Foi suficiente para despertar neles a vontade de aprender a dançar, mesmo sabendo que não poderiam ouvir o som da gaita. Em 1984, já como membros do CTG Querência, os alunos começaram a desfazer o mito que os surdos não poderiam dançar por não ter um sentido tão importante para quem executa esta arte.
Para realizar a obra que muitos consideravam impossível, o CTG convidou a professora Leda Salvi. "Fui colaborar, ensinando algumas danças fáceis para que jovens fizessem uma apresentação, no entanto, acabei me apaixonando por eles", confessa a professora Leda.
Dança dos facões já é dificil pra quem ouve e tem reflexos... imagina para o surdo, que tem até um certo desequilíbrio no corpo devido a surdez
Leda, e seu envolvimento com o grupo, viajou pelo Brasil com os jovens surdos mostrando que os tradicionalistas do nosso estado, ouvintes ou surdos, podiam mostrar a nossa arte de preservação da cultura. O trabalho, a crença e a perseverança da professora Leda fez surgir no Estado um grupo inédito. As dificuldades não foram poucas. Levou mais de um ano para que eles pudessem aprender algumas danças. Ela desenvolveu uma metodologia própria. Ela passou a contar os compassos, proporcionando a sincronia entre a gaita e os dançarinos. O posteiro do grupo fazia a contagem para que todos iniciassem juntos. Neste sistema, a professora Leda inverteu o ditado, que passou a ser, para os surdos: “Se toca, conforme a dança” e, não, “se dança conforme a música”.
Em 2000, no gigantinho, os estancieiros abriram o ENART da 1ª RT. Vantuir (E) foi patrão por mais de 8 anos do CTG

Muitas vezes, as pessoas não acreditavam que os jovens realmente não ouviam, tamanha harmonia existente. Em um destes episódios, a professora resolveu acabar com qualquer dúvida. No meio da apresentação do grupo Leda fez o chamado "para gaita!". O grupo continuou dançando até o fim como se nada tivesse acontecido, emocionando o público, com lágrimas, aplausos e acenos. Ao final das apresentações, cantavam “céu, sol, sul, terra e cor”, do cantor Leonardo, momento em que todos eram tomados pela emoção.
O CTG Querência, da Escola Especial Concórdia foi, sem dúvida, uma entidade que se destacou, já que todos os integrantes eram deficientes auditivos. O CTG, que tinha o acompanhamento dos pais e amigos dos jovens,  durou até que o reitor da ULBRA, mantenedora da escola na época, resolveu desativar o departamento.
Quando chegou ao fim o departamento, na escola, a professora vagou com seus alunos por outras entidades. O CTG Glaucus Saraiva abraçou a causa e apoiou a existência do grupo. Mas o vínculo da escola era muito importante. Depois de um certo tempo, o grupo se desfez.
Os tempos passaram, uns casaram, outros formam pra faculdade, outros se tornaram pais, e a saudade foi batendo, dos amigos, dos tempos que viajavam e dançavam pelo Brasil. Foi aí que um grupo de surdos procurou a professora Leda, que reside no litoral, para reativar o “folclore” como eles chamavam. E o 35 CTG, através da patroa, Márcia Borges, abriu as portas do pioneiro para os membros do CTG Querencia, entidade especial, que quando é vista, toca os corações, até mesmo dos índios mais xucros do Rio Grande.

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