No brilho de nossos
olhos, o amor pela querência.
Frase criada por Fraga
Cirne, virou o lema, do grupo de surdos do CTG Querencia da Escola
Concórdia da capital
Em novembro de 1983, alguns
alunos da Escola Concórdia assistiram a apresentação de um grupo de danças
folclóricas do Rio Grande do Sul. Foi suficiente para despertar neles a vontade
de aprender a dançar, mesmo sabendo que não poderiam ouvir o som da gaita. Em
1984, já como membros do CTG Querência, os alunos começaram a desfazer o mito que
os surdos não poderiam dançar por não ter um sentido tão importante para quem
executa esta arte.
Para realizar a obra que muitos
consideravam impossível, o CTG convidou a professora Leda Salvi. "Fui
colaborar, ensinando algumas danças fáceis para que jovens fizessem uma
apresentação, no entanto, acabei me apaixonando por eles", confessa a
professora Leda.
Dança dos facões já é dificil pra quem ouve e tem reflexos... imagina para o surdo, que tem até um certo desequilíbrio no corpo devido a surdez |
Leda, e seu envolvimento com o
grupo, viajou pelo Brasil com os jovens surdos mostrando que os
tradicionalistas do nosso estado, ouvintes ou surdos, podiam mostrar a nossa
arte de preservação da cultura. O trabalho, a crença e a perseverança da
professora Leda fez surgir no Estado um grupo inédito. As dificuldades não
foram poucas. Levou mais de um ano para que eles pudessem aprender algumas
danças. Ela desenvolveu uma metodologia própria. Ela passou a contar os
compassos, proporcionando a sincronia entre a gaita e os dançarinos. O posteiro
do grupo fazia a contagem para que todos iniciassem juntos. Neste sistema, a
professora Leda inverteu o ditado, que passou a ser, para os surdos: “Se toca,
conforme a dança” e, não, “se dança conforme a música”.
Em 2000, no gigantinho, os estancieiros abriram o ENART da 1ª RT. Vantuir (E) foi patrão por mais de 8 anos do CTG |
Muitas vezes, as pessoas não
acreditavam que os jovens realmente não ouviam, tamanha harmonia existente. Em
um destes episódios, a professora resolveu acabar com qualquer dúvida. No meio
da apresentação do grupo Leda fez o chamado "para gaita!". O grupo
continuou dançando até o fim como se nada tivesse acontecido, emocionando o
público, com lágrimas, aplausos e acenos. Ao final das apresentações, cantavam
“céu, sol, sul, terra e cor”, do cantor Leonardo, momento em que todos eram
tomados pela emoção.
O CTG Querência, da Escola
Especial Concórdia foi, sem dúvida, uma entidade que se destacou, já que todos
os integrantes eram deficientes auditivos. O CTG, que tinha o acompanhamento
dos pais e amigos dos jovens, durou até
que o reitor da ULBRA, mantenedora da escola na época, resolveu desativar o
departamento.
Quando chegou ao fim o
departamento, na escola, a professora vagou com seus alunos por outras
entidades. O CTG Glaucus Saraiva abraçou a causa e apoiou a existência do
grupo. Mas o vínculo da escola era muito importante. Depois de um certo tempo,
o grupo se desfez.
Os tempos passaram, uns casaram,
outros formam pra faculdade, outros se tornaram pais, e a saudade foi batendo,
dos amigos, dos tempos que viajavam e dançavam pelo Brasil. Foi aí que um grupo
de surdos procurou a professora Leda, que reside no litoral, para reativar o “folclore” como eles chamavam. E o 35
CTG, através da patroa, Márcia Borges, abriu as portas do pioneiro para os
membros do CTG Querencia, entidade especial, que quando é vista, toca os
corações, até mesmo dos índios mais xucros do Rio Grande.
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