O pensador Augusto Comte (1798-1857) foi
o autor da corrente filosófica denominada “positivismo”. Esta corrente filosófica
ganhou força na Europa na segunda metade do século XIX e começo do século XX,
período em que chegou ao Brasil.
O
positivismo ganha espaço no meio intelectual brasileiro no mesmo período em que
as ideias republicanas ganharam adeptos e se fortaleceram como antagonismo ao
regime monárquico.
No
Brasil, o positivismo influencia figuram como Nísia Floresta Brasileira
Augusta, Euclides da Cunha, marechal Cândido Randon, Demétrio Ribeiro, Lindolfo
Collor, coronel Benjamim Constant, Julio de Castilhos entre tantos.
Os
princípios do positivismo estão baseados no conhecimento científico, aceito
como o único verdadeiro. Para os positivistas, as teorias somente podem ser
verdadeiras se forem cientificamente comprovadas.
Do
positivismo deriva a “religião da humanidade”. Ela se caracteriza pelo uso de
símbolos e sinais como as outras religiões, e tem como fundamentação o lema: “O
amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”. Por regime, o
positivismo adota o “viver às claras” e “viver para outrem”. Toda a filosofia
positivista, vista do ângulo religioso, se sustenta na incessante busca da
perfeição do homem e da sociedade. A palavra “altruísmo”, criada por Comte,
resume o ideal da religião positivista.
Em
Porto Alegre existe uma das raras capelas positivistas do mundo, localizada na
Avenida João Pessoa.
Com
a Proclamação da República no Brasil (15 de outubro de 1889) instala-se um novo
regime de governo e uma nova forma de gestão do estado. Novos símbolos foram
criados, entre eles a Bandeira Nacional que adotou a frase “Ordem e Progresso”
como lema perene inscrito na tarja branca que atravessa o círculo
anil-estrelado.
Podemos
classificar os positivistas brasileiros, no final do século XIX, em três
grupos: os partidários da Doutrina Comtista – intelectuais que apenas seguiam a
filosofia positivista; os políticos interessados na aplicação prática da
Política Positivista; e os ortodoxos, aderentes completos que seguiam a
doutrina, a religião e a filosofia e que se dispunham a pregar e difundir o
positivismo.
Julio
de Castilhos e Benjamim Constant, foram os dois políticos mais alinhados à
Política Positivista, nunca se filiando à Igreja Positivista, o que gerou,
inclusive descontentamento dos positivistas ligados ao Templo da Humanidade de
Porto Alegre, em relação a Julio de Castilhos.
Os
positivistas adotavam a máxima do “conservar melhorando” (hoje Fala-se em
“manter o que está certo e melhorar ou mudar o que não está certo”).
Conceitos
como liberdade e autoridade preocupam os positivistas. “Autoridade sem
liberdade é tirania, como liberdade sem autoridade é anarquia”.
A
influência positivista no Rio Grande do Sul.
Não
é possível compreender a influência do positivismo no estado do Rio Grande do
Sul se incluir nesse estudo a figura de Julio Prates de Castilhos (1860-1903).
Julio
de Castilhos nasceu na Fazenda da Reserva, antigo distrito de São Martinho do
município de Vila Rica, hoje Julio de Castilhos, concluiu os estudos primários
em Santa Maria, os estudos secundários em Porto Alegre e formou-se na Faculdade
de Direito de São Paulo, onde estudou entre os anos de 1877 e 1881.
Desde jovem J. de Castilhos se engaja em
movimentos de combate à Monarquia, prevendo seu fim, e deixando clara a sua
filiação ao pensamento positivista. Antes de completar 19 anos de idade,
escreveu artigo no jornal acadêmico “A Evolução” criado por ele, Assis Brasil e
Joaquim Periera da Costa, na Faculdade de Direito de São Paulo, no qual assim
se expressa:
“Pois bem, é tão inconstrastável o curso das ideias,
é tão matemática. Tão infalível a ivariabilidade das leis que presidem os
destinos sociais e marcam-lhes o rumo, os períodos históricos se prendem, se
ajustam e se reproduzem numa dada época, numa dada circunstância, de tal modo e
tão precisamente – numa palavra a História fala tão positivamente, tão
decisivamente – que só os que não ouvem ou não compreendem-na, poderão negar
que tudo leva a crer no próximo desaparecimento da monarquia.”(15.5.1879)
De
retorno ao Rio Grande do Sul, em 1881, se estabeleceu como advogado,
dedicando-se, também à militância política. Republicano e positivista convicto,
J. de Castilhos passa a atuar como jornalista através do jornal “A Federação”
que serviu de instrumento para a pregação das ideias do seu grupo, composto por
eminentes gaúchos como Pinheiro Machado, Venâncio Aires, Borges de Medeiros,
Jorge Abbott, Demétrio Ribeiro, Assis Brasil, Ramiro Barcellos, entre outros.
A
Proclamação da República permitiu que o positivismo fosse a linha condutora das
ações políticas que se consolidaram já na primeira Constituição rio-grandense.
A
constituição positivista elaborada sob inspiração de Julio de Castilhos se
prestou a manifestações entusiasmadas de apoio, assim como a outras, não menos
entusiasmadas, de desagrado.
Estabeleceu-se,
com a Constituição, aprovada em 14 de julho de 1891, o que se denominou “a
ditadura castilhista”. O termo ditadura, aqui não pode ser tomada e entendida
como equivalente a um regime antidemocrático e despótico como normalmente
ocorre. No contexto q a que nos referimos – o positivismo implantado por Julio
de Castilhos – a ditadura corresponde a um modelo de gestão política em que a
autoridade é imposta pela própria lei. A respeito disso, Paulo Carneiro
escreve: “É totalmente absurdo confundir
seu sistema com os regimes totalitários, que ele foi o primeiro a repelir,
fundando a política moderna na mais ampla liberdade espiritual”(Idéias
Políticas de Julio de Castilhos. Senado Federal, Casa de Ruy Barbosa/MEC,
Brasília, 1982, p. 23.)
Para
Décio Freitas, Julio de Castilhos foi “o homem que inventou a ditadura no
Brasil”, inclusive defende que Getúlio Vargas, em 1937 e os militares, em 1964,
copiaram o modelo criado por J. de Castilhos que concebeu a primeira “ditadura
perfeita” da América Latina. O autor, no “posfácio” da obra “O homem que
inventou a ditadura no Brasil”, afirma:
“O teratológico sistema político de
inspiração comtiana imposto por Julio de Castilhos a ferro, fogo e sangue, na
mais ímpia guerra civil do continente sul-americano do século XIX, perdurou no
Rio Grande do Sul por quase quatro décadas, período ao fim do qual, no início
dos anos trinta, políticos castilhistas gaúchos, liderados por Getúlio Vargas,
trataram de criar um fac-símile no âmbito nacional”(Publicação da Editora
Sulina, 1999, 3ª Edição, p. 191).
A
constituição positivista contrariou os modelos vigentes, inclusive na parte
destinada à apresentação. Ao invés de invocar a Deus Todo-Poderoso ou Povo
Soberano, ela invocou a providência humana: Família, Pátria e Humanidade.
Mozart
Pereira Soares faz veemente elogio à constituição positivista, escrevendo:
“Nesta hora de constituições prolixas, que
invadem, com notável desembaraço, o território da legislação ordinária, a
Constituição castilhista, pela sua unidade, concisão e coerência, vai sendo
cada vez mais digna de exame, até pela sua aptidão coercitiva, principalmente
pelos que sabem não poderem os códigos conter tudo, em estado atual, mas muito
permitir por sua potencialidade. Ou, como bem assinalou Augusto Comte: “Para
completar as leis, são necessárias vontades” (Julio de Castilhos. 2ª Ed.
Instituto Estadual do Livro. Porto Alegre, 1996, p. 40).
Fonte: Manoelito Savaris
Imaginário Social
A influencia do pensamento positivista
Um comentário:
Muito bem escrito o teu texto
Tirou minha dúvida sobre o assunto :)
Obrigado
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