Diz o Blog: "... Quem não faz o chamado “Cfor”, o curso de formação organizado pelo MTG, é menos “tradicionalista” do que o campeiro da foto que você está vendo nesse post? Esse sim, gaúcho autêntico, razão de ser de tudo aquilo que cultuamos, domador de cerca de 1000 cavalos, lá na fronteira, em Santana do Livramento. Seu nome: Valteir de Araújo Castro, 40 anos".
Só neste parágrafo temos duas coisas diferentes: O que é ser tradicionalista e a referencia ao gaúcho autentico. Aí é que mora o perigo de postarmos sentimentos particulares nossos e, nem sequer, diferenciarmos o significado das palavras.
Vejamos então, tradicionalismo:
“Tradicionalismo é o movimento popular que visa auxiliar o Estado na consecução do bem-coletivo, através de ações que o povo pratica (mesmo que não se aperceba de tal finalidade) com o fim de reforçar o núcleo de sua cultura; graças ao que a sociedade adquire maior solidez e o individuo adquire maior tranqüilidade na vida em comum” Luiz Carlos Barbosa Lessa
"Tradicionalismo é um sistema organizado e planificado de culto, prática e divulgação desse todo que chamamos Tradição. Obedece a uma hierarquia própria, possui um alto programa contido em sua Carta de Princípios, que deve, na medida do possível, realizar e cumprir”. Glaucus Saraiva
“Tradição, comparativamente, é o campo das culturas gauchescas. Tradicionalismo é a técnica de criação, semeadura, desenvolvimento e proteção das suas riquezas naturais, através de núcleos que se intitulam "Centros de Tradições Gaúchas”." Glaucus Saraiva
E tradicionalista?
O tradicionalista é um nativista que acredita na força da tradição e, por isso, se perfila como se fora um soldado, na defesa e difusão de valores, princípios e crenças que constituem a própria historia do gaúcho.
O tradicionalista é o militante do tradicionalismo na defesa da tradição gaúcha, que apresenta, entre outras, os seguintes valores básicos: o espírito associativo, o nativismo, o respeito a palavra dada, a defesa da honra, a coragem, o cavalheirismo, a conduta ética,o amor a liberdade, o sentimento de igualdade, a politização e o senso de modernidade. (valores citados por Jarbas Lima, in “O sentido e o alcance social do tradicionalismo”).
Tradicionalista é aquele que pugna pela conservação das idéias e valores morais transmitidos de geração em geração, ao longo da nossa bela história rio-grandense. Tradicionalista é, pois, uma pessoa que preza as tradições, sem ser retrógrado nem saudosista (Manoelito Savaris - RS historia e identidade).
O gaúcho:
Desde a época da Revolução Farroupilha (1835-45) e especialmente depois da Guerra do Paraguay (1860-65) a palavra gaúcho passou a significar o homem do campo, ligado a atividade pastoril, de maneira específica e a identificar os nascidos no Rio Grande do Sul, de forma genérica. A mudança ocorrida não foi fruto de lei ou de imposição, mas resultado da evolução natural da sociedade e da compreensão de que o homem é parte integrante do ambiente em que vive e sua condição muito se deve aos fatores a que está submetido.
Poderíamos resumir a trajetória do vocábulo “gaúcho”, dizendo que na época dos capitães-generais e primeiros proprietários era o ladrão, vagabundo e coureador; para os capitães de milícias e comandantes de tropas empenhadas na defesa das fronteiras, era bombeiro, chasque, isca para o inimigo; nas guerras da independência do Prata, era lanceiro, miliciano; depois, para os homens da cidade, era o trabalhador rural, homem afeito aos serviços do pastoreio, peão de estância, campeiro destro, sinônimo de guasca ou monarca; finalmente, desde os primórdios do século passado, um nome gentílico, a exemplo de carioca, barriga-verde, capixaba, fluminense (Manoelito Savaris - RS historia e identidade).
Por tanto, o tradicionalista, de forma organizada, regrada, busca preservar usos, costumes e valores, legado por gerações, dos gaúchos "autênticos" (se tem como classificar de tal forma) formados na pampa rio-grandense. Uma tradição que sofre, a cada geração, ações provocadas pela dinamicidade do folclore, e por culturas alternativas (que estão sempre girando em torno do cerne cultural) se não possuir um mecanismo de preservação, desaparece ("do verbo deixa de existir"). A bombacha é um belo exemplo: Começou larga, foi estreitando ao uso das modas, hoje é praticamente colocada a vácuo em algumas pessoas. O lenço que foi sinônimo de identidade pela cor, tamanho, utilidade (sim, o lenço tinha utilidade), hoje, em alguns pescoços, nem dá para ver o nó.
É... dá para pararmos para pensar, pode ser... só um pouco. E se alguém passa e diz para outra pessoa que ela é menos gaúcha, menos isso, menos aquilo, são opiniões, são ideias. E "ideias, não são metais que se fundem", dizia um homem que usava lenço no pescoço e tinha identidade.
Um comentário:
Excelente texto. Concordo, só não entendi se o autor concorda em classificação de tradicionalismos (como se a única bombacha é aquela larga ou o único lenço é o branco/encarnado) ou em que a pilcha ou vestimenta campeira pode ser ulilizada de "cortes" distintos.
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