Em março de 2003 publiquei um editorial, neste mesmo espaço do Eco da Tradição, tratando dos rodeios crioulos e me referindo à área campeira. Naquela oportunidade escrevi sobre os objetivos dos rodeios.
Hoje, passados quase 12 anos, continuo acreditando nas mesmas coisas, ou seja, que o rodeio existe para preservação da cultura gauchesca, oferecer oportunidade de lazer, obter algum lucro para financiar as atividades anuais da entidade promotora e, acrescento: é uma oportunidade de convivência, de ver e rever amigos, de fazer novos amigos, de sair um pouco da corrida diária e ter tempo para uma boa conversa, um mate largo, saborear uma boa declamação ou se emocionar com um grupo de danças.
A área campeira dos rodeios, nesses quesitos, está melhor do que a área artística. Digo isso porque as pessoas envolvidas com as provas campeiras, notadamente o tiro de laço, acampam no rodeio. Montam suas cozinhas. Tiram o tempo para um bom mate. Conversam com os parceiros e com o vizinhos de acampamento.
A questão mais intrincada está na área artística. Poucos acampam e quase ninguém organiza cozinha. A maioria dos CTGs somente se preocupa com os grupos de danças e, por isso, organizam suas viagens e o tempo que permanecem no rodeio de acordo com a apresentação dos seus grupos. Os concursos individuais estão desaparecendo. Tem sido comum a participação do mesmo CTG, melhor, do mesmo grupo de danças, em dois ou três rodeios no mesmo final de semana. Essa prática impede que a entidade fique num rodeio, impede que conviva com os outros participantes e fortalece unicamente o interesse pelo premio, em dinheiro, que o rodeio oferece.
Para o organizador do rodeio, não há qualquer vantagem com a prática atual de participação em vários rodeios no mesmo final de semana. Os concorrentes não pagam ingresso, não há cobrança de inscrição, os grupos de danças nada consomem no rodeio, mesmo porque ficam ali somente o tempo necessário para apresentar-se e, além disso, há sempre problemas com a programação. Os organizadores “ajeitam” a programação para esperar um grupo de danças que está vindo de outro rodeio.
Será esse o caminho que desejamos para o Movimento? Será que o único e grande objetivo deve ser o de ganhar o premio do rodeio? Não será esta prática uma forma de privilegiar os “grupos grandes” os CTGs mais estruturados?
O que proponho é simples: estabelecer uma regra em que cada grupo de danças somente possa ser premiado com dinheiro em um rodeio por final de semana. Se quiser concorrer em dois rodeios pode, mas somente pode ser premiado no primeiro que participar. Mesmo que vença também o segundo rodeio, não receberá o prêmio.
Além dessa medida que pode ser adotada por decisão de Congresso Tradicionalista, ainda podemos estimular a que os promotores de rodeios voltem a programar fases classificatórias o que oportunizará aos concorrentes apresentarem-se duas vezes.
Tudo isso para nossa reflexão. No congresso de Uruguaiana vamos debater o tema e adotar alguma medida que favoreça a convivência dos tradicionalistas nos rodeios.
Dezembro de 2014
Manoelito Savaris
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