quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Cinema ao Sul em 2015 - Por Henrique de Freitas Lima

Se 2014 nos deu as animações gaúchas há muito esperadas (dez anos de trabalho, quase uma vida) Antes que a Sbornia nos Separe, de Otto Guerra e Enio Torresan, e As Aventuras do Avião Vermelho, de José Maia e Frederico Pinto, também deu a luz a bons documentários, como O Mercado de Notícias, de Jorge Furtado,  Dyonelio, de Jaime Lerner, Mais uma Canção, de René Goya e Alexandre Derlan, e até mesmo a um filme especial, misto de realidade e ficção, Castanha, do jovem David Pretto (25 anos). Nos chamados “live action movies” , os filmes de ficção com atores, a safra gaúcha foi modesta. 

  O que esperar de 2015? Multiplicaram-se os meios de acesso ao dinheiro público federal, especialmente ao FSA – Fundo Setorial do Audiovisual, e a lei de quotas da TV por assinatura impõe aos canais a necessidade de renovar suas grades. Se o impulso nacional é inédito, no Estado se espera que a razão impere em meio à pobreza  e a LIC – Lei de Incentivo a Cultura, para o bem de todos, volte a ser atrativa aos contribuintes. Com pedágio de 25% ao FAC – Fundo de Apoio a Cultura, só se conseguiu ressuscitar o mercado do “me devolve por baixo da mesa”. 
         

             A volta de Victor Hugo à Secretaria de Estado, homem do meio cultural, é estimulante e garante o diálogo. Derrubar os infames 25% não representa ônus extra para as combalidas finanças da província, já que o que importa é o teto da renúncia fiscal, congelado em 35 milhões há anos. Desde 2012, a Cultura se abriga sob o mesmo guarda chuva do Esporte e da Solidariedade Social, o SISAIPE. Diríamos que já virou uma sombrinha, considerando a riqueza do RGS nestes domínios e a pouca farinha para o nosso mingau. Uma entre tantas coisas a lembrar que já vai longe o tempo que nossas façanhas serviam de modelo a toda terra.


Para o público do Eco da Tradição, afeito à pesquisa da nossa identidade, se espera a chegada às telas de Os Senhores da Guerra, de Tabajara Ruas, que Gramado viu em 2014. O diretor, sensível às críticas, prometeu remontar o filme antes da estréia. A temática da busca da nossa identidade cultural não urbana vive um momento difícil. Se o Brasil viu o vigoroso Getúlio, de João Jardim, também conviveu com a frouxa versão de Jayme Monjardim para O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo. O contador de histórias de Cruz Alta seguirá esperando um cineasta à altura de sua obra.

          De bom, a inédita aquisição pela Secretaria de Educação  de 1.100 DVDs da Série Contos Gauchescos, deste articulista, para a rede de escolas públicas estaduais de ensino médio. Na mesma esteira, em julho passado Lei Federal impôs às escolas exibir um filme de longa metragem nacional mensal nas escolas. Estão regulamentando e ninguém sabe se vão mesmo cumprir. Na era dos smartphones e da internet, a gurizada só chega à palavra escrita se estimulada por recursos audiovisuais. Bom que alguém se deu conta disso. A nós, cabe produzir os conteúdos para atender a esta turma e colaborar para que a barbárie não impere de vez. 

Henrique de Freitas Lima
cineasta  e produtor cultural

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