Dispõe sobre a forma de avaliação dos grupos de danças no quesito indumentária
MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAÚCHO
MTG/RS - VICE-PRESIDÊNCIA DE CULTURA
NOTA DE INSTRUÇÃO Nº 03/17
DOS OBJETIVOS
Estabelecer esclarecimentos para avaliação de indumentária para os grupos de danças tradicionais participantes de atividades competitivas;
Auxiliar no cumprimento do Artº 17, paragrafo 1º do Regulamento Artístico do Rio Grande do Sul;
Esclarecer a forma de fabricação da peça “Chiripá”;
Elucidar quanto ao traje da prenda que realiza a apresentação dos grupos de danças no Enart, em todas as suas fases.
DA ABRANGÊNCIA
Rodeios, festivais e encontros em que haja a avaliação de indumentária dos grupos de danças.
DA JUSTIFICATIVA
Considerando os questionamentos quanto aos procedimentos e forma da avaliação da indumentária em eventos;
Considerando a introdução de peças históricas fabricadas de tecidos não adequados;
Considerando a importância da apresentação dos grupos de danças das entidades por suas respectivas prendas;
Considerando as reuniões do grupo de estudos de Indumentária Gaúcha realizadas em junho e agosto de 2017.
DA DELIBERAÇÃO
Sobre aspectos da avaliação do quesito de indumentária;
Em relação à confecção de trajes históricos;
Acerca da indumentária correta a representatividade da prenda.
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Essa Nota de Instrução entra em vigor na data de sua publicação e serve como um complemento da Nota de Instrução 02/2017.
QUANTO À UTILIZAÇÃO DE FIGURINOS
Os dançarinos dos grupos de danças que dançarem somente as coreografias de entrada e saída, poderão ficar próximos do tablado com o figurino dessas coreografias. Os dançarinos que participarem das danças tradicionais deverão estar devidamente pilchados, mesmo fora do tablado, não sendo permitida a mistura de peças e/ou acessórios do figurino das coreografias de entrada e saída com a indumentária gaúcha.
Caso isso ocorra, deverá ser feito em um espaço reservado e preparado pelo próprio grupo.
QUANTO AOS ACOMPANHANTES DOS GRUPOS DE DANÇAS
Os integrantes das entidades e regiões tradicionalistas (coordenadores, patrões, membros da patronagem, coordenadores artísticos, carregadores, etc...), que estiverem auxiliando e acompanhando os grupos de danças nos espaços ao redor do tablado deverão estar devidamente pilchados e serão avaliados conforme as diretrizes estabelecidas pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho.
QUANTO À CONFECÇÃO DO CHIRIPÁ
Considerando as obras e as citações abaixo:
Indumentária Gaúcha – Ilva Maria Borba Goulart, Maria Izabel Trindade de Moura, Sonia Suzana de Campos Abreu e Lílian Argentina Braga Marques. 2003.
Página 68:
“Conforme Tito Saubidet (1952) in 'Vocabulario y Refranero Criollo', a palavra chiripa procede do quíchua (chiri = frio; pac = para). Roupa característica do gaúcho. Consiste de um pano 'burdo' (espesso) e leve, geralmente de baeta, passado entre as pernas...”
Página 69:
“Quanto à dimensão do chiripá, nos informa Roque Callage: vestimenta rústica, sem costuras, usadas pelos campeiros, constituída de metro e meio de fazenda, a qual passando por entre as pernas é apertada na cintura, sem duas extremidades, por uma cinta de couro...”
O Gaúcho –
João Carlos Paixão Côrtes. 1985.
Página 139:
“... Ao encontro dessa nossa opinião é a anotação de João Mendes da Silva, em 1884, já citada anteriormente por nós. Romagueira Corrêa (1892) ao dicionarizar chiripa, o descreve como vestimenta usada pelos peões de estância ou camponeses, que consta de uma peça quadrilonga de fazenda (metro e meio) a qual, passando por entre as pernas e apertada à cintura em suas extremidades por uma cinta de couro ou por meio de tirados. Para fazer o chiripa pode-se empregar e usa-se geralmente, um poncho de pala”.
Página 140:
“Eram confeccionadas com tecido de boa caída e geralmente de uma só tonalidade. Listras, com barras na borda do comprimento maior, eram de tecido, segundo alguns, de apala, como chamam na Argentina”.
Página 254:
“O Pala, tal como aconteceu com o poncho, afora o seu período natural de manufatura caseira, através de tecidos de peças oferecidas nas casas comerciais de outrora era confeccionado em teares primitivos, tanto em tessitura fina de lã in natura como de urdidura em algodão."
Mão Gaúcha – Barbosa Lessa.
1996.
Pagina 87:
“
Lã tecida – a fiação doméstica é exercida pelas mulheres utilizando teares rústicos. Com fios grossos fazem-se xergões, cobertores e ponchos bicharás; em casas mais requintadas usam-se tapetes de lã, inclusive sob a forma de trilhos para corredores longos”.
Página 88:
“O tecido de tricô se faz com duas agulhas grandes de madeira. É a técnica mais utilizada para casacos femininos, capuzes, luvas, etc. Permite desenhos e relevos mais rebuscados. O tear é utilizado para a confecção de xergões, cobertores, ponchos masculinos. Permitem um tecido mais fechado, que propicia abrigo”.
O Gaúcho – usos e costumes –
Edison Acri. 1991.
“
Era um pano grande de forma retangular, de baeta. Colocava-se em forma de fralda, passado por entre as pernas”.
Indumentária Gaúcha –
Antônio Augusto Fagundes. 2001.
Página 21:
“... E o chiripá tradicional era de merinó, ou então feito de um pala. No mais discreto e másculo...”
Viagem ao Rio Grande do Sul –
Auguste de Saint Hilaire. 1999.
Página 87:
“
Essa mulher achava-se a fazer a fiar lã para fazer ponchos grosseiros, para os negros, e que se empregam também à guisa de cheripá. Mostrou-me um pano de linho muito bem feito.”
Pilchas do Gaúcho –
Véra Stedile Zattera. 1998.
Página 161 –
citando Fernando Octavio Assunção
“El chiripa colocado entre las piernas, como pañal, es de uso algo más tardio, como ya indicamos y fue, casi siempre, en principio, um poncho o um médio poncho de telar, por lo que naturalmente, tenía flecos em su perímetro y era de um color de fondo, con listas o rayas de outro u otros colores.”
Em entrevista realizada com a senhora llva Maria Borba Goulart, uma das autoras do Livro de Indumentária do Movimento Tradicionalista Gaúcho (2003), ela explica:
A história da formação do Rio Grande do Sul, que é pastoril, está intrinsecamente ligada à tradição gaúcha, o que justifica ser a pilcha gaúcha o traje característico do RS.
O Movimento Tradicionalista Gaúcho desde os primórdios busca a preservação do patrimônio sócio-cultural do povo gaúcho. Congregando, em sociedade, os defensores dos costumes, dos hábitos, da cultura, dos valores morais e éticos do gaúcho rural. É também o órgão coordenador das atividades tradicionalistas no Estado, sendo responsável pela disciplina do uso adequado das pilchas que se subdividem em trajes de épocas ou históricos e traje atual.
“O autêntico e não a invencionice.”
“A moda é inimiga da tradição”.
Um breve relato das peças em pauta:
Pala - uma peça quadrangular, com uma abertura no centro, para enfiar a cabeça. (Poncho-pala tem gola). Feito em tear com paus para bater a lã, nos teares dos índios pampeiros, teares verticais, utilizados para tecelagem “El requé” ou pala de madeira dura, daí o nome da técnica que deu o nome à peça (pala).
Pala - lazinhã, vicunha, merinó, seda e alguns foram feitos em algodão com listras longitudinais, quase todos eles. “Pala” - manto os gregos e romanos (origem Helênica) chamado também de palé (luta), medindo mais ou menos 2mx1,60m. É uma única peça quadrangular, portanto não tem emenda.
Chiripá saia - usado entre os índios em 1786, pano de algodão ou baeta (lã fina), feito em tear, com ou sem franjas (quando possuem franjas as mesmas são feitas do mesmo pano), é um pano retangular, enrolado na cintura, aberto no lado esquerdo e preso por faixa e guaiaca.
Chiripá farroupilha - influência da região da fronteira castelhana (Uruguai e Argentina), uma peça quadrilonga mais ou menos 1,50m, não era curto, o pano fica abaixo do joelho - “uma fralda grande fixada na cintura pela guaiaca”. Muitas vezes foi substituído por um pala de lã fina.
Vestimenta rústica, sem costuras, usada pelos campeiros (pano inteiro) podendo ter listras nas laterais (barrados) com franjas ou não.
Saliento que essas três peças: pala, chiripá-saia e chiripá-farroupilha são peças históricas e deverão ser obrigatoriamente preservadas o mais próximo possível da sua autenticidade.
Fontes: Fernando Assunção; Tito Soubidet; Paixão Côrtes e Livro de Indumentária Gaúcha.
A máquina de costura só apareceu no século XIX:
Em 1971, surgiram as máquinas - fios têxteis, para atender o mercado malheiro. Inicialmente eram apenas acessórios agulhas, ferro a vapor e aviamentos.
Em 1985, a fábrica alemã de teares eletrônicos “Universal” trás para o Brasil equipamentos de última geração em soluções para tecelagem eletrônica, com fios industrializados e com a inovação dos fios de malha com o nome: “máquinas que fazem a moda”. (A.H.Gmmbh).
Atualmente ainda temos como adquirir panos (lã, algodão e seda) que nos deixam mais próximos da originalidade das peças em pauta.
llva Maria Borba Goulart
Com base nos textos supracitados e buscando esclarecimentos quanto à forma de confecção do chiripá, torna-se possível compreender que a peça em questão NÃO PODERÁ ser fabricada em teares que tenham como produto final a “MALHA” que nada mais é que o resultado do volteamento de fios.
Também esclarecemos que o tecido do chiripá tem urdidura, que significa “conjunto de fios de mesmo comprimento reunidos paralelamente no tear por entre os quais se faz a trama. (Sin.: urdimento, urdume.)”. (Dicionário Online de Português).
QUANTO AO TRAJE DA PRENDA QUE APRESENTA OS GRUPOS DE DANÇAS
As prendas de faixa que realizarem a apresentação dos grupos de danças no Enart, em todas as suas fases, deverão estar devidamente pilchadas, de acordo com o Livro de Indumentária do Movimento Tradicionalista Gaúcho (2003), com a ampliação da Nota de Instrução 02/2017, ou com a Diretriz da Pilcha Gaúcha.
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Figura meramente ilustrativa do livro da professora Vera Stédile Záttera |
Os trajes permitidos são: Primitivo; Farroupilha; Estancieira e Atual.
Porto Alegre, agosto de 2017.
Anijane Luiz dos Santos Varela Nairioli Antunes Callegaro
Vice-Presidente de Cultura do MTG Presidente do MTG