Mesmo sem raízes profundas no tradicionalismo, desde os 12 anos – quando fui ao primeiro fandango da minha vida como acompanhante de uma prima – me apaixonei pela cultura gaúcha e seus elementos. Não vou entrar aqui no mérito do tradicionalismo como instituição. Me refiro à tradição em sua origem, o gosto pela pilcha, pelo mate, pelo churrasco e a conversa franca e honesta ao pé do fogo de chão. Desde então, minhas preferências musicais, literárias, artísticas e culturais têm se referenciado nessa fonte. Leio de tudo, me interesso por tudo, ouço de (quase!) tudo.
Por que o quase? Tenho visto nas redes um bando de gente que reclama da música ‘imposta’ pela mídia – eles falam em especial da Globo, que projeta nomes como Anitta, Pablo Vittar e Jojo Todynho (???) (Eu nunca tinha ouvido falar dela e ainda não sei qual é a sua música ‘famosa’. Me esclareçam, por favor.). No entanto, grande parte dos reclamantes são os mesmos que, quando estão na balada dançam até o chão quando toca esse tipo de música.
Que fique claro que não estou criticando quem gosta. Cada um tem o direito de gostar do que quiser, assim como eu tenho direito de desligar o rádio quando toca qualquer coisa que me desagrade. A função dessa publicação não é fazer juízo de valor sobre a música ou qualquer tipo de arte, é declarar o direito de não ouvir (ou ouvir, se for o caso!).
A mídia oferece aquilo que o seu público consome. Anitta está no topo das paradas, não porque aparece seminua na TV (ou sim?), mas porque tem quem ouça (e muito!) suas músicas, acesse seus clipes e os compartilhe e promova nas redes sociais. Em suma: lei da oferta e da procura! É claro que quanto mais oferta, maior o número de consumidores.
Ontem, 08/02, músicos gaúchos se reuniram na sede do MTG para discutir o futuro da música regional. E entre as constatações, eles se deram conta de quanta energia desperdiçam (e nós, consumidores, também!) debatendo se a música que vem de fora é boa ou ruim (Isso também serve pro BBB. Não gosta, desliga a TV ou troca o canal), ao invés de nos dedicarmos a promover o que é nosso e agregar novos consumidores ao que produzimos.
Temos aqui no Rio Grande do Sul, uma produção invejável de boas músicas, talentos incontestáveis do cancioneiro regional, grupos que se dedicam a preservar a tradição, mas, apesar de tudo, nossa música se restringe às nossas fronteiras. O problema é a nossa mente de colonizado, que continua nos impondo a visão de que a grama do vizinho é mais verde e que a música importada é melhor. Ledo engano!
Fazendo um paralelo ao chimarrão (que também não sai daqui!), sempre afirmo nas palestras que o mundo não toma chimarrão porque o gaúcho não conhece seus benefícios e propriedades. Importamos chá verde, um dos mais consumidos do planeta, porque faz bem para saúde, mas desconhecemos o que o chimarrão nos proporciona (é considerado o chá mais completo do qual se tem conhecimento) além do hábito.
Liliane é Presidente da Escola do Chimarrão |
Entretanto, do meu ponto de vista (olha eu aqui de novo!) essa mudança começa em mim. Temos que parar com essa ideia de que em casa de ferreiro o melhor espeto é o de pau. Temos que parar de criticar (e assistir) Pablos, Anittas e Todynhos (Crítica também da IBOPE!!) e começar a valorizar Alexandres, Jocas e Fernandos. Somente consumindo o que os nossos músicos produzem é que fortaleceremos o mercado fonográfico do Rio Grande do Sul. E não me venham com esse mimimi de que as letras são difíceis e os ritmos são repetitivos. Hoje, temos músicas e artistas para todos os gostos.
Quer saber? Tem mercado para todo mundo e, graças a Deus, a internet tá aí pra nos libertar! Ao contrário do que muitos pensam, a gauchada é esclarecida e sabe usar perfeitamente o Spotify, Youtube, Soundcloud e todas as outras plataformas disponíveis. Então, bora reclamar menos e ouvir mais do que nos enche o coração e faz bem para alma? Eu escuto música gaúcha, e você?!
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