poesia de Odilon Ramos
Deu-se o estouro da tropilha!
Quando a paciência transborda,
O xucro arrebenta a corda,
E não aceita a encilha.
Desde o herói farroupilha,
Este exemplo é conhecido:
Quem é explorado e oprimido,
Dá o troco a quem humilha.
Muita gente que gritando
Fez passeata e rebuliço,
Hoje em dia, dá de ombros:
-Não tenho nada com isso!
O nosso petróleo bruto
Vendem a preço de banana,
Pra uma América Tirana
Refinar nosso produto
E depois, como um insulto,
Cruel, injusto, indecente,
Compram de volta pra gente
A preço de enorme vulto.
E o povo é uma atropa mansa.
Impotente e submisso,
Segue a passo murmurando:
- Não tenho nada com isso!
Saúdo aos caminhoneiros,
Categoria valente,
Que até, na história recente
Deram contribuição
Pra criar a situação
Que agora estamos vivendo
E agora estão revertendo,
Sua antiga posição.
Mas os grandes responsáveis
Não demonstram compromisso.
Se a gente pergunta, dizem:
- Não tenho nada como isso!
Se faltar pão no bolicho
O leite e tudo que tinha,
Feijão, açúcar, farinha,
Vamos viver que nem bicho,
Furando sacos de lixo
Em busca de algum rescaldo,
Enquanto os grandes culpados
Zombam de nós, por capricho.
E quem ocupava as praças
Agora se esconde omisso...
Mentindo para si mesmo:
- Não tenho nada com isso!
Até eu, pobre poeta,
Sem força e sem expressão,
Me obrigo a ter posição
Com a minha rima discreta
Porque minha alma se inquieta
Com a realidade em que esbarro,
Pois cheguei a andar de carro
E estou voltando à bicicleta.
Talvez para alimentar-me
Pegue minhoca e caniço,
E vá pescar num arroio:
Que a muito tempo cobiço;
Talvez me vá campo afora,
A cavalo num petiço,
Assobiando uma chamarra:
-Não tenho nada com isso.
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