quarta-feira, 18 de julho de 2018
Viagem ao Rio Grande do Sul, de Auguste Saint Hilaire - Parte XI
Com muito pesar deixa Montevidéu, onde uma multidão lhe deu provas de seu acolhimento. Está com uma carroça nova, muito rígida, mas muito pesada que quebra logo em seguida. Ajudado por um camponês a consertar, e ainda ganhou deste mais uma junta de bois, sem aceitar retribuição alguma.
A administração portuguesa proibiu a produção charque, para dar tempo dos animais se multiplicarem, em outros tempos eram exportados até 1,5 milhão de peles, fora o contrabando, agora não passa de 25mil para o consumo interno.
Seguindo a viagem caem em um atoleiro, lá é ajudado por um camponês que Saint Hilaire o menciona como "gaúcho", que também não aceitou retribuição. uando na verdade é costume da região, entre os mais humildes, aguardar algum pagamento, caso não seja dado com certeza irá pedir.
Mais a frente encontra diversos cavaleiros que aguardam para uma corrida de cavalos, algo muito apreciado no Rio Grande também, onde são feitas diversas apostas. Nas cidades do interior os habitantes fazem tudo a cavalo, vão fazer compras, a taberna, buscar água e carne, até mesmo vão a missa.
Constata que nada é igual ao ódio que eles conservam em relação ao povo do Rio Grande, e ao que em geral os espanhóis tem dos portugueses. Pretender que este território seja de domínio português é unir dois contrários.
As habitações por mais simples que sejam em Minas são muito limpas, já no Rio Grande começam a ser menos cuidadas em lugares mais humildes, mas no interior do Uruguai as casas são extremamente sujas e com mau cheiro. Nota-se que entre os portugueses havia pouca mistura com os locais, mantendo seus valores europeus, mas por aqui os espanhóis se misturaram com índios e outros locais, e seus filhos adquiriram os maus hábitos da maioria, mesmo os não mestiços.
Quando não está em uma casa, pede para que façam sua cama na carroça, mas há pouco espaço devido a bagagem, quando pede que lhe façam alguma comida é como se cometesse um roubo, por diversos momentos reclama do péssimo serviço prestado por seus contratados, especialmente aquele que trouxe do Rio de Janeiro, no momento ainda um soldado o acompanha, mas apenas lhe dá mais trabalho e despesas.
Em uma família lhe ofereceram o chimarrão ou matesito, estes se alimentam especialmente de porcos selvagens, que antes eram domesticados e agora são caçados a laço.
Ao entardecer uma onça pintada estava devorando um de seus potros, nem o cão quis chegar perto, estes animais antes eram mais comuns, mas com a redução do gado e o tumulto da guerra tornaram-se raros.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário