No tempo que ficou em São Borja o calor foi insuportável, segundo o testemunho dos moradores e do padre, fevereiro é o mês mais quente, mas no inverno por vezes chega a nevar.
Há doze anos começou a se formar o regimento dos guaranis, em torno de 500 homens, onde apenas exceto o major e coronel todos os oficiais são guaranis. Para ultrapassar as barreiras da indisciplina a música militar foi usada para isso, tornando exercícios e manobras uma espécie de divertimento. A guerra os dando o direito da pilhagem, viravam soldados pelo o que mais lhes convinha.
O que os torna talhos a vida militar é o fato de suportarem a fome, cansaço e intempéries das estações. Portugal lhes deve o sucesso obtido em Taquarembó. Mas pouco sabendo combinarem, eram misturados aos brancos, então assim melhor aproveitados.
Seu soldo é o mesmo dos milicianos, quase todos tem família morando em aldeias em São Borja. Outrora os habitantes cultivavam algodão, as mulheres batiam, fiavam e faziam tecidos, mas nas três invasões espanholas tudo foi destruído. Os homens que seriam aptos hoje são soldados e as mulheres não possuem meios. Saint Hilaire contrata duas índias para fazer este serviço e fica muito contente com a presteza e qualidade no trabalho.
O viajante mescla o relato do padre de São Borja que viveu muitos anos junto aos índios com suas e suas observações: Os guaranis não possuem noção de futuro, aprendem com muita facilidade, mas não compõe nada. São dóceis, obedientes, mas por viverem somente o presente não podem ser fiéis a palavra empenhada, são estranhos a sentimentos generosos, honra, ambição, cobiça ou amor-próprio. Se economiza é por pouco tempo, quando compra uma roupa que poderia lhe proteger por um longo tempo, logo troca por uma vaca que nada restará em poucos dias.
Um outro padre de São Borja ministra aulas a meia dúzia de crianças, outro grande número de guaranis ensina a seus filhos o catequismo e orações que os padres da Companhia de Jesus haviam composto. Mas a instrução não vai além da memória, não chegando a alterar seus costumes.
Também não possuem superstição, embora idolatram imagens, estranhos ao ódio, vingança, amor ao dinheiro e glória, cometem muito menos pecados que os brancos. Quando se confessam mencionam apenas o pecado da castidade, onde os jesuítas tratavam como falta grave se relacionarem com brancos. As índias sentem muito menos culpadas quando se relacionam com o negro ou outro índio, sempre relatando na confissão a cor de quem intimamente conviveu. Quando cometem pequenos furtos não mencionam, pois para eles Deus fez os bens deste mundo para todos, quando uma casa é furtada, dizem que fugiu.
Frequentemente as crianças são vistas brincando, correndo e pulando, mais que as brasileiras, mas quando crescem se tornam indolentes, apáticas e sérias. Com pouca afeição pelos outros. As mães choram as vezes a perda dos filhos. Mas esposa e marido não choram a perda um do outro. Os filhos observam impassíveis o último suspiro de seus pais, como obrigações devem levá-los ao cemitério e cavar-lhes a sepultura.
Texto compilado por
Jeandro Garcia
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