Tema: A negritude na construção sociocultural gaúcha:
Uma referência a trajetória e situação do negro no Rio Grande do Sul.
Autores: Robson Thomas Ribeiro, Guilherme de Abreu Machado, Luana de Moura, Eduarda Teixeira Streck
Aspectos Sociocultural: relativo aos fatores ou aspectos sociais e culturais da comunidade afro-rio-grandense;
a. De Negritude: relativo ao sentimento de orgulho racial e conscientização do valor e da riqueza cultural do povo negro;
b. De Trajetória: ação e percurso do negro na história do Rio Grande do Sul; de onde veio e por onde passou;
c. De Situação: localização situacional e marginalização da comunidade negra no espaço sócio político gaúcho em relação aos vários pontos de referência dentro e fora do mesmo.
Justificativa
Um problema recorrente na construção da historiografia do Rio Grande do Sul, especialmente a produzida pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho, é o tratamento ainda muito isolado dado história do estado, recorrendo-se pouco ao contexto nacional e internacional em um sentido mais abrangente. Ao falar-se da questão da escravidão, abolição, pós-abolição e o processo de marginalização dos povos negros, como preceitos de negritude inseridos neste contexto, se faz necessário apoiar-se e reflexionar num sentido mais amplo ultrapassando as barreiras geográficas e ideológicas. Percebe-se também que neste sentido, há uma abordagem ainda muito restrita acerca da cultura e história afro-rio-grandense. Que por muitos anos foi inexistente. Disse-se inexistente, pois a história do Rio Grande do Sul, tanto quanto, a História do Brasil, sempre silenciou a participação dos homens e mulheres negras, omitindo capítulos decisivos na formação sócio-cultural da nação. E o Movimento Tradicionalista Gaúcho sendo, portanto, uma territorialização da sociedade, acabava não abordando, ou omitindo tópicos fundamentais da historia e da cultura afro-rio-grandense. "Aqueles que vencem a batalha é que fazem à narrativa. Nós historiadores temos que reconstituir o processo da batalha, para recuperar as vozes daqueles que não foram ouvidas", Maria Helena Machado, USP, especialista em escravidão, BBC Brasil 2018.
A abolição é um tema ainda, muito controverso, todavia, porque deixou o antigo escravo a mercê de uma realidade tão cruel quanto a de cativo. Quando assinada a alforria, o negro teria duas opções bem definidas. Permanecer sob a tutela de seu senhor, subordinado a um trabalho na lógica de favor, um indivíduo formalmente livre, contudo em condição de total dependência, ou arriscava se a empreitada de partir em busca da sobrevivência, buscando proteção nos quilombos, este sendo um escravo proveniente do meio rural, ou assentando se nas periferias das cidades, criando o fenômeno das favelas, este sendo urbano. Em ambas a situações os homens e mulheres negras não deixaram de ser violentados física e simbolicamente pela sociedade e suas instituições. A forma que a abolição ocorreu, sem apoio para os ex-escravos começarem uma vida nova, tem consequências negativas até hoje, segundo o presidente da Fundação Palmares, Erivaldo Oliveira. Para ele, é uma das causas da profunda desigualdade racial brasileira.
Embora as leis tenham mudado, muitos movimentos tenham nascido e muitos esforços tenham sido feito em favor da memória afro-brasileira, o país ainda sucumbe em tenções etnoraciais e os negros e negras ainda sofrem com as mazelas do racismo e com a dificuldade de acesso amplo e democrático. Diferente do que acreditava Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala, a grande miscigenação do povo brasileiro não acabou por dinamizar o racismo e o sentimento e supremacia branca.
Quando voltamos às atenções para a sociedade atual, percebemos várias semelhanças com situações do século XIX, XVII e até anteriormente. A impressão que temos é que evoluímos pouco, e que as desigualdades seguem aumentando. Hoje por exemplo, temos cerca de 3500 comunidades quilombolas no Brasil, e pouco mais de 190 possuem regulamentação para com o estado, ficando visível a baixa interferência do mesmo nesta questão.
Há um fator de desigualdade econômica que permeia a sociedade e, portanto social, que penaliza mais as mulheres negras, é impossível não abordar a questão étnico-racial nas políticas propostas por todas as instâncias dos governos brasileiros. A opinião das mulheres negras tem valor nas discussões que envolvem questões como: a pobreza, a educação, a capacitação das mulheres, a saúde, a violência, os conflitos armados, a política, os direitos humanos, o meio ambiente, as meninas mulheres, as mulheres e a mídia, entre outros assuntos. Todos remetem às conquistas almejadas na área da economia, principalmente viáveis através do mercado de trabalho, que impulsiona para a dignidade social.
A situação atual do Negro como agente social político e cultural é inegável, porém a sociedade provou em inúmeras atitudes que o merecido reconhecimento do valor dessa contribuição ainda é debilitado. Esta questão vai muito além de um respeito mínimo, está ligada diretamente a forma com que a integração sociocultural acontece, pois muitas vezes a falta de interesse de outros grupos étnicos de conhecer aspectos da cultura africana, acabam colaborando para a má interpretação da mesma, bem como um distanciamento da assimilação de um pensamento igualitário não apenas em teoria, mas também como prática.
Diante do exposto preocupados com a problemática do racismo, opressão e desvalorização sócio cultural da comunidade afro-riograndense, apoiados ainda no que diz o primeiro item da Carta de Princípios (Auxiliar a sociedade na solução dos seus problemas fundamentais e na conquista do bem coletivo), buscamos com esta proposta estabelecer o diálogo e apreciação da cultura afro na sua essência, a fim de promover uma reeducação coletiva como consciência acerca da igualdade racial, trazendo a tona a importância dos povos negros para com a identidade gaúcha.
Com o intuito de que os tradicionalistas possam discutir sobre a importância da Negritude na Construção Sociocultural Gaúcha com Referência na Trajetória e Situação do Negro no Rio Grande do Sul. E com isto promover a protagonizarão do negro como o porta voz da sua própria história, que na maioria das vezes é cantado pelo branco que não carrega a carga histórica cultural de um povo marcado à chibata pelo racismo e que muitas vezes é relegado a uma perda de identidade. Apresentado e transfigurado em um papel “exotificado” do guerreiro escravo desvinculado dos seus valores e de sua riqueza cultural.
O MTG tem um grande compromisso para com a sociedade em especial a comunidade afro, no que diz respeito a luta contra o racismo e valorização da cultura afro brasileira e afro gaúcho, no sentido de estar dando mais entrada e protagonismo. “O sistema vem fazendo a manutenção da ideologia racista desde o fim da escravidão, ainda hoje o racismo é estrutural em nossa sociedade, mas um grande passo para se dar combate ao racismo acredito ser pela educação, pela escola, que pode contribuir para a valorização da identidade negra e de pretos conhecedores de sua história e cultura e de brancos não reprodutores da ideologia racista. Um dos desafios da comunidade negra é o de ocupar os espaços que não foram pensados para nós mas que são um direito do nosso povo, como a escola, a universidade, posições mais reconhecidas, como médico e médicas, advogados e advogadas, engenheiros e engenheiras, professores e professoras…
A algum tempo o MTG como diversos espaços, não nos davam entrada e a discriminação era gritante dentro dos mesmos. Assim hoje dar espaço de fala e de protagonismo é essencial. Combater atitudes discriminatórias que até hoje estão presentes é fundamental. E conhecer, estudar e contar a contribuição do povo negro em todos os campos da construção socioeconômica do Rio Grande, pois não podemos continuar omissos e ignorantes quanto ao papel importantíssimo que o negro desempenhou em nossa sociedade e em nossa formação sociocultural. Acredito que essa conscientização deve ocorrer em todos os espaços, principalmente na escola, trazendo a grande contribuição do negro na história do RS, valorizando nossa história, cultura e identidade. Acredito também que um grande início é não interferir no espaço de fala e no protagonismo dos negros(as), e incentivar a auto-organização do povo negro que contribui para o fortalecimento e empoderamento do nosso povo, pois com a nossa organização vamos criando autonomia para estar se colocando nos espaços e estar contando nossa verdadeira história e cultura.” Rai Silva, entrevistada. Não há, portanto, “raças superiores, nem inferiores. Há as que têm e as que não têm oportunidade”, como diz Collares p. 15.
Considerações Finais
Cremos que seja importantíssima, portanto, a discussão por parte dos tradicionalistas sobre a importância das mulheres e dos homens negros perante a constituição da identidade social e cultural do povo gaúcho, enquanto agente da expressão de uma cultura riquíssima e agente de uma constante luta e resistência contra as tensões étnico raciais que afetam a nossa nação. Fazendo um arremate da cultura afro-riograndense de modo que não haja uma apropriação indevida destes adereços e aspectos e que se consiga dar voz aos homens e mulheres de pele preta.
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