É comum ouvir críticas a quem trata cachorro como se fosse gente. Concordo. Plenamente.
Cachorro é cachorro, gente é gente.
Cachorro tem que ser tratado como cachorro – com respeito à sua fidelidade, ao seu caráter. Porque cachorro não trai. Não mente.
Cachorro te ama pelo que você é, seja lá quem você for: ministro do Supremo, senador petista ou indigente.
Cachorro não finge, não forja, não frauda. Cachorro só sabe o que sente.
Passa fome ao seu lado – e se não acha bonito não ter o que comer, pelo menos não te chama de traste, perdedor ou incompetente. Nem te dá uma pata na bunda e te troca por alguém mais atraente.
Cachorro não faz jogo de cena. Não guarda mágoa. Cachorro é emocionalmente inteligente. Perdoa sem que você tenha que implorar perdão. E, uma vez perdoado, o perdão é permanente.
Por que haveríamos de tratar um ser assim como se fosse gente?
Gente a gente também não deve tratar como cachorro.
Porque não é qualquer um que merece carinho na barriga, cafuné na orelha, demonstração de amor sem motivo aparente.
Tirando o Mike Tyson, o Suárez e nós mesmos na hora do amor, gente não morde. Mas há outras formas de se cravar o dente. No coração, no bolso, na alma. Por vezes com veneno de serpente.
Gente fofoca, inveja, calunia. Te beija enquanto te entrega, e te odeia, sorridente.
Cachorro obedece, respeita, se submete. Mas só gente é subserviente.
Gente ama com ressalvas, faz promessas que não cumpre.
Só cachorro (e uma ou outra mãe) é que ama incondicionalmente.
Por que tratar como cachorro - que fica ao seu lado até a morte - alguém que te abandona de repente?
Não, é totalmente sem noção e incoerente tratar gente como se fosse cachorro - e tratar cachorro como se fosse gente.
(para Benedita, Negão, Cacau, Catarina, Luke, Bento, Pretinha, Chico, Duda, Sírius, Olívia, Caio, Corina, Argos, Francelino, Kwai Chang, Tsuki e todos os que fizeram e fazem mais feliz a minha vida, e aos que ainda a farão daqui pra frente).
(Texto postado no face em 6 de setembro de 2016, quando o Tião ainda não tinha se incorporado à matilha, e por isso não é mencionado na dedicatória, explicitamente. Na foto, a Benedita - que amei mais que a muita gente.)
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