Quando ouvi pela primeira vez lá pelos nove anos de idade, em nossa fazendola em Piratini, quando andei tentando atrair e amansar um gato mui lindo que tinha aparecido no campo. "Não adianta: Esse é gaúcho!" - Bruto, indomável. Depois, por leituras, fiquei sabendo que também podia significar gente ou coisa do campo. Foi isso que nos inspirou, em 1948, quando fundamos em Porto Alegre o primeiro Centro de Tradições Gaúchas. Por coincidência ou não, dai pra frente foi se firmando também como gentílico: povo ou terra gaúcha, indústria ou futebol gaúcho, governo gaúcho, etc.
Mas de um tempo pra cá, um mundo de brasileiros está dizendo igual a esse senhora do livro (se referindo ao livro de Jakzam Kaiser): "Só por que nasci em Minas Gerais, não quer dizer que tenha de ser mineira. Eu sou gaúcha!" Mas como assim, Dona? porquê?!
Jakzam Kaiser, antropólogo e jornalista, pôs o pé na estrada e revirou nosso país em busca de uma resposta esclarecedora. Como resultado, saiu um livro duplamente valioso. "O Brasil dos Gaúchos" jamais se afasta da seriedade científica, mas entrevistando o povão na alegria das festas campeiras, ganha um colorido informal que até os gaúchos (?) vão conhecer.
Prefacio de 'orelha' do livro "Ordem e Progresso - O Brasil dos Gaúchos | Etnografia sobre a diáspora gaúcha". Através do olhar
antropológico, o autor buscou entender a construção da representação de ser gaúcho fora do Rio Grande do Sul e seu uso como estratégia politica para posse e ocupação de territórios; a interação dos gaúchos fora do RS com outros grupos sociais, e o estabelecimento de uma rede étnico-regional gaúcha transnacional.
Foi observando que os gaúchos estão envolvidos num projeto de colonização da fronteira agrícola brasileira - uma recolonização do Brasil. Este processo de colonização envolve posse e ocupação de terras e uma "domesticação" do outro. Foram constatados conflitos com as populações locais, causadas pela mudança de lógica econômica do local provocada com a chegada dos migrantes gaúchos.
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