domingo, 28 de fevereiro de 2021

A Paz de Ponche Verde

   

  Está lá, gravada em um obelisco de granito, nos campos localizados há mais de 30 km de Dom Pedrito, onde se lê a seguinte inscrição: "Nestes Campos de Ponche Verde, em 1º de marços de 1845, os defensores do  Império e os Republicanos de Piratini asseguraram a unidade nacional, com a pacificação do Rio Grande do Sul".

     Já se vão 176 anos da assinatura da paz, que não foi uma coisa muito simples de acontecer. Impasses não permitiam que, Império e República, chegassem a um acordo. A habilidade de negociação de Caxias era de usar uma linguagem dupla, que evitasse o conflito e aproximasse o acordo: Uma que satisfizesse os brios e interesses dos farroupilhas e outro que evitasse condições que não fossem aceitas pelo Império.

     Caxias assumiu o compromisso de fazer cumprir as condições acertadas no tratado de Ponche Verde sem parecer vitórias ou derrotas, mas que todos saíssem satisfeitos. os Imperiais argumentavam que tratados se faziam entre nações e a república rio-grandense não era reconhecida por eles. Ao mesmo tempo em que aqui era plantada uma sementinha para que anos mais tarde o Brasil se tornasse uma República, também.

     A pacificação foi assinada em 1º de Março de 1845 em Ponche Verde, e tinha como principais pontos:

     O Império assumia as dívidas do governo da República;

     Os farroupilhas escolheriam o novo presidente da província - Caxias;

     Os oficiais rio-grandenses seriam incorporados ao exército imperial nos mesmos postos, exceto os generais;

     Todos os processos da justiça republicana continuavam válidos;

     Todos os ex-escravos que lutaram no exército rio-grandense seriam declarados livres;

     Todos os prisioneiros de guerra seriam devolvidos à província.

     Além do mais, o charque importado foi sobretaxado em 25%.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

O Pecado da Vaidade - A historia de Santo Antão x Diabo

 

   Antão, jovem que perdeu seus pais, cedo e decidiu distribuir seus bens e a riqueza deixada por eles, reservando carinhosamente uma porção necessária a sua irmã. Protegeu-a  colocando-a numa casa conhecida, onde viviam senhoras virgens e fieis. E então, passou a viver sozinho, praticando e cultivando o bem, exercitando pesada disciplina para domar a própria vontade. 

    O demônio invejoso não suportava ver aquele jovem aprimorar as suas virtudes e exercitá-las em benefício das pessoas, e por isso, tramava e maquinava contra ele, tentando-o de todas as maneiras, afim de enfraquecer a sua vontade. Mas ele resistia heroicamente. 

     Cansado, o diabo desistiu, virando as costas disse que não mais iria atenta-lo. Ao ver o diabo sair, Antão abaixou-se de e joelhos  disse: Agora posso ser "santo". O diabo voltou. Antão tinha uma fraqueza. Se esforçou para ser Santo, então, tinha uma vaidade.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Nota de pesar - Faleceu o pioneiro do laço


     É com grande pesar que comunicamos o falecimento do pioneiro das competições de tiro de laço no Rio Grande do Sul, Irineu Nery da Luz. Internado no Hospital Nossa Senhora da Oliveira, em Vacaria, desde quinta-feira, seu Irineu foi vítima de falência múltipla de órgãos. 

     O corpo será velado na Câmara Municipal de Esmeralda e o sepultamento está marcado para hoje, às 17h, no cemitério da cidade.

    Considerado um dos pioneiros dos rodeios, Irineu foi homenageado da FECARS no ano de 2012, edição realizada em Canoas. Ele auxiliou na organização do primeiro treino de laço, há 70 anos, em novembro de 1951, pelo grupo liderado por Alfredo José dos Santos, em Esmeralda. A iniciativa deu origem aos rodeios.  Descanse em Paz seu Irineu, pois seu nome está gravado na história.


Ao lado do seu Irineu Luz, depois da palestra que proferi em Esmeralda, no ano de 2017

Os pioneiros do Laço

     Pelo que ficou escrito e é contado pelos moradores e fontes entrevistadas, o Quadro, ou invernada de Laçadores da Fazenda das Violetas, equipe de Alfredo José dos Santos era formada por: José de Lemos Pacheco, Bento Teles de Abreu, Sezefredo Bernardino de Lemos, Manoel Eugenio da Mota, José dos Santos Pacheco, Virgilio Lemos, Honório Luz, Gomercindo da Luz, Rui Amarante contando, mais tarde, com Irineu Nery da Luz (um dos informantes) e Hugo Lemos que ajudaram com “as escritas e regramentos”.

     

Folclore na escola - por Neusa Secchi

    Torna-se cada vez maior nos meios educacionais as políticas de valorização da diversidade cultural e a inclusão de conteúdos sobre as culturas populares tradicionais como temas curriculares transversais.

     Entendemos que a "oralidade e a escola" são conceitos cuja aproximação tem sido problemática uma vez que a escola historicamente se consolidou como um dos templos do saber fixado pela escrita, o saber letrado das camadas sociais. Essa escola rejeita a cultura oral, tradicional própria dos povos agrafos - aqueles que não tiveram necessidades ou oportunidades históricas do desenvolver ou do servir-se da escrita.

     Ainda temos uma Escola padronizada, uma educação mais imposta pelas elites do que voltada para o saber popular. Nesta perspectiva nem sempre o saber popular é levado em consideração, ocasionando uma desqualificação da cultura popular e de seu valor enquanto instrumento e conteúdo a ser trabalhado na instituição escolar.

     Há um choque cultural entre a Escola e a Comunidade, pois os conhecimentos transmitidos preservam a hegemonia da cultura erudita como norma geral de comportamento social, desconsiderando os saberes produzidos e preservados pela comunidade: possui modo de vida, valores, crenças e hábitos próprios.

     Muitas escolas tratam tais manifestações, a identidade étnica, como conhecimento a ser sistematizado no transcorrer do currículo escolar de maneira superficial e em ocasiões comemorativas.

     O valor educativo do folclore não tem sido suficientemente aproveitado pela escola. As razões disso parecem estar na falta de conhecimento dos educadores sobre o assunto. Conhecimento estes que os educadores deveriam receber de forma sistemática em seu curso de formação, pois o risco de dispor-se a educar crianças e adolescentes sem dispensar atenção à bagagem cultural tradicional que trazem da sua família, num ensino dissociado da vida real.

     O Folclore é inerente a todas as camadas sociais, é vivenciado no cotidiano através da linguagem, vocábulos, ditos, gestos, alimentação, artesanato, brinquedos, brincadeiras, crendices, superstições, música, dança, etc. São aspectos básicos para o desenvolvimento da identidade regional que precisam ser resgatados e estudados pelo professor, com a finalidade de selecionar e adaptar como vai aplicar no processo de ensino aprendizagem.

     A escola é o ambiente propício para a aprendizagem da cultura tradicional do seu meio e obtida das mais diversas formas de divulgação e expressão no campo de ação material e imaterial, e na complexidade de suas dimensões históricas, geográficas e sociais.

     É preciso conscientizar os jovens da importância do conhecimento sobre nossas raízes e tradições, despertando o interesse em redescobrir e valorizar, tanto nas periferias, zonas rurais e urbanas, as belezas ancestrais guardadas na memória de nossos pais e avós.

     Despertar no aluno o gosto pelas coisas da comunidade que habita, apego aos usos e costumes locais para melhor compreender o passado cultural e histórico de seu povo.     

     O projeto pedagógico da escola é o documento que define quais são as intenções da escola, suas finalidades, objetivos e propostas que traçam a realização trabalho de qualidade e o desejo coletivo de todos os segmentos: Escola/Cultura Tradicional.

     Formar a prática pedagógica mais democrática e participativa, um currículo adequado à diversidade cultural e as necessidades da sua comunidade escolar.
Para que ocorra uma identidade cultural é preciso ter um currículo multicultural e que a linguagem seja a mesma sobre todos os segmentos que compõem o contexto escolar.

     Atualmente a legislação em vigor ampara iniciativas de elaboração de currículos capazes de contribuir para a construção de uma sociedade plural que contempla a diversidade cultural.

     O professor é importante como agente preservador da herança cultural, da tradição do seu povo. Ele soma cultura quando aprende com a criança suas canções, brincadeiras e transmite às outras, oportunizando situações de preservação.

     A iniciação da criança na escola deveria ser organizada de uma forma suave e afetiva, trazendo para o ambiente escolar o ensino formal oportunizado pela família e, em grande parte representado pelo Folclore: rodas cantadas, contos, fábulas, adivinhações, trava-línguas, dancinhas, recortes, dobraduras, confecções de mobílias, brincadeiras tradicionais.

     A Escola vem ampliando suas atividades e tarefas que eram da família. O estilo de vida nos grandes centros urbanos, dificuldades económicas, habitações com espaços reduzidos, necessidades do trabalho fora da mãe, colocam os pais uma convivência menor com os filhos e a escola vai suprindo as necessidades dessas lacunas. Oferece aos alunos a oportunidade de realizar atividades complementares artísticas, culturais, esportivas e lazer criando um vínculo Escola-Comunidade.

     Paulo Freire: "Educação deve ser integradora, integrando professores e alunos numa criação e recriação de conhecimentos comumente partilhados. O conhecimento atualmente é produzido longe das salas de aula, por pesquisadores, acadêmicos, livros didáticos e comissões oficiais de currículos, mas não é criada e recriada pelos estudantes e professores na sala de aula".


Como previsto, MTG adia eleições

      O Movimento Tradicionalista Gaúcho adiou a Assembleia Geral Eletiva 2021, que estava programada para dia 27, onde seria eleita Os componentes dos Conselhos Diretor e Fiscal da entidade. A votação, que aconteceria no próximo sábado, foi adiada, porque o Rio Grande do Sul está parcialmente com bandeira preta/vermelha e por consequência com restrições sociais, o que inviabiliza a realização simultânea nas 30 regiões tradicionalistas. Segundo administração atual, a decisão foi tomada em reunião realizada entre a presidência, diretoria, candidatos, conselheiros, coordenadores regionais e equipes de trabalho, na noite desta segunda-feira, 22 de fevereiro. 

     A provável data é dia 06 de março. Em caso de impossibilidade, por força das medidas sanitárias de controle à pandemia de covid-19, o pleito será realizado no dia 13 de março. Nos próximos dias o MTG divulgará um boletim com informações mais detalhadas e orientações.

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Nota de Falecimento - Mais uma vítima do Covid-19

      É com muita tristeza e pesar que informamos a passagem deste jovem diferenciado e prestativo, voluntário e colaborador em eventos e ações da 25ªRegião Tradicionalista: Diego Souza, o 'Tio Gordinho'.

      Vítima da pandemia que assola o planeta, Diego não resistiu ao covid-19.  Nos solidarizamos com os amigos do CTG Paixão Côrtes, de Caxias do Sul, familiares e em especial a Coordenadora de Gestão de Prendas e Peões da 25ª RT, Aline Malgarezi por esta perda irreparável.

     Que o bom Deus lhe receba de braços abertos em sua divina Luz  e conforte o coração de familiares e amigos.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Rezas e benzeduras - por Cristiano da Silva Barbosa


      Entre os males que afligem os homens, a doença é a mais frequente. A cura, com base na força miraculosa, em poderes sobrenaturais, sempre foi uma constante em sua existência, através dos tempos e entre diferentes partes do mundo. A história também mostra que o homem começou a procurar meios de se livrar das doenças, criando uma medicina popular. 

     Em lugares totalmente desprovidos, muitas vezes de recursos e conforto, os gaúchos aprendem a se “defender” e usar tudo o que a natureza oferece. Uma cultura passada de geração em geração e que, a cada dia, com a “modernidade”, vem desaparecendo. Gaúchos muitas vezes brutos e ao mesmo tempo afetuosos, muitos analfabetos. Acreditavam no poder das rezas e benzeduras e ainda mais, nas pessoas, na firmeza de um olhar ou um aperto de mão. Pode-se afirmar que nem tudo se resolvia com as rezas, mas constata-se que curaram muita gente. 

      No Rio Grande do Sul, é a benzedeira que tem todos os métodos não ortodoxos no exercício da cura e, afinal, o que todos querem é estar bem. 

     Existem diferentes formas de reza e benzeduras para cada situação. Essas são acompanhadas de uma oração bem simples e um ritual repetitivo, dependendo muito da fé de quem benze e de quem busca a cura, podendo ser à distância, mas sempre acompanhada de uma peça de roupa a quem se direciona a oração. Como se disse, as palavras não são mais importantes que a fé que a pessoa tem em Deus. 

     Nas benzeduras não existe súplica ou pedido, a reza é feita apoiada na força da palavra, ficando evidente que, ao ser pronunciado, o mal se afasta naturalmente. 

     Como as rezas são passadas oralmente, muitas palavras são deturpadas, mas a benzedura segue o rito fielmente. É muito difícil obter uma reza, porque essa é realizada com rapidez e em voz sempre baixa, pois, se revelada, a benzedura perde o ”poder de cura.” 

      São fontes intermináveis de energia, desejos de fazer o bem, possuem um olhar magnetizante, aquela candura que nos passa sensações muito boas. Elas mobilizam poderes, unindo a vontade de curar, de fazer o bem, com obediência e concentração, transformando e dissolvendo as energias negativas.  

   Não existe “profissão benzedor” e em sua maioria, não cobram. É comum às pessoas que se curaram, sentirem-se gratificadas e retribuirem espontaneamente em forma de dinheiro, alimentos variados, que vão desde produtos agrícolas aos de feitura caseira. 

     A religiosidade, que essas pessoas apresentam, diante dessas manifestações, vem a se constituir em verdadeiros temas folclóricos que servem para mostrar todo reconhecimento e respeito a Deus. A inteligência natural, da gente da terra, supria a incultura com sua espontaneidade no trato da matéria espiritual.

     Não se encontrou nenhum benzedor que se propunha a ter pensamentos negativos, no sentido de prejudicar alguém ou causar atraso na vida de uma determinada pessoa, ou mesmo orações com conteúdos maléficos. Todo o benzedor tem pia credulidade em Deus e escolhe para si um santo católico devocionista. Por isso, este é sempre bem recebido na comunidade em que vive, com afabilidade e simpatia. É uma pessoa simples, muitas vezes pouco letrada, que confia no seu poder de transmitir o bem aos outros. 

Fragmento do livro Ensaios Sobre o Povo Gaúcho.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Nota de Falecimento - Vianei Portela de Mello


      Nesta quinta-feira, 18 de fevereiro, o tradicionalismo gaúcho ficou um pouco mais triste com a partida do professor de danças, coreógrafo e bailarino Vianei Portela de Mello, 53 anos. Vianei era casado com a também professora e avaliadora de danças, Marione Fischer de Mello. 

     Natural de Júlio de Castilhos, morava há anos em São Miguel das Missões. Era vizinho das famosas ruínas de São Miguel que tanto o inspiraram na dedicação à arte, cultura e folclore regional e latino e ao tradicionalismo gaúcho, no qual, por mais de 30 anos, atuou como instrutor em várias entidades tradicionalistas da região. Além das danças gaúchas, também se dedicou às danças folclóricas, especialmente latino-americanas, com importantes participações em diversos festivais nacionais e internacionais. 

     Nas redes sociais, ex-alunos e amigos expressaram o carinho pelo professor que, por décadas, inspirou e estimulou bailarinos com seus ensinamentos e legado. Vianei lutava contra um câncer e por causa da doença precisou se afastar das aulas, sem, no entanto, deixar de acompanhar seus alunos sempre que podia. 

     Descanse em paz, Vianei, e que Deus conforte teus amigos e familiares.

Nota de Falecimento - Telmo de Lima Freitas

 

    É com enorme pesar, do tamanho do Rio Grande, que comunicamos  a passagem do cantor e compositor Telmo de Lima Freitas, nesta quinta-feira (18), aos 88 anos (completados dia 13), em Cachoeirinha. O prefeito Miki Breier decretou luto oficial de três dias.

      Natural de São Borja, morou durante anos em Uruguaiana e outras cidades do interior como Itaqui, durante 4 anos aonde se aposentou como agente da policia Federal. Com os grandes amigos Edson Otto e José Antônio Hahn, criou o grupo "Os Cantores dos Sete Povos", com o qual conquistou o troféu Calhandra de Ouro da Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, em 1979, com a canção Esquilador. Com o grupo, Telmo participou das 11 primeiras edições do festival.

      Telmo foi autor do livro de poesias crioulas "De Volta ao Pago", lançado pela Editora Treze de Maio. Em 2006, o músico gravou em Porto Alegre uma compilação de suas composições, denominada "Aparte", com participação de familiares. Ele foi patrono da Semana Farroupilha em 2009.

     Telmo será lembrando não somente por sua voz ou suas letras, mas também pela humildade, de morar em um sítio onde preparava um arroz com galinha quando chegava uma visita e seu modo de falar firme, que inspirava segurança e confiança para quem conversava com ele. 

Muitas manifestações nas redes sociais:

Juliano Moreno Rodrigues

"Se por acaso se estropiar o meu cavalo
Que eu não consiga prosseguir essa jornada
Há de ficar minha cantiga missioneira
Junto da poeira que se erguer n'alguma estrada".
Pago Santo

Jorge Gudes & família
"Que Deus receba este Taura Missioneiro Dom “Telmo de Lima Freitas”. 
O Rio Grande se entristece com essa imensa perda, pois ele representava e vai continuar representando, um naco da história do povo gaúcho!
Que os pajés missioneiros te benzam e te conduzam até a Querência eterna".

Joca Martins
"Descanse em Paz Telmo de Lima Freitas" 

Miki Breier - Prefeito de Cachoeirinha
"Perdemos na tarde de hoje o grande compositor Telmo de Lima Freitas, residente em nosso município. Decretamos luto oficial de três dias pelo seu passamento".
#Esquilador
#VaiemPaz

Deputado Estadual, cantor e compositor Luiz Marenco

Aspectos do Folclore no Rio Grande do Sul - Parte I

 

     Apesar das características físicas serem essencialmente as mesmas, o comportamento humano tem muitas diferenciações. Observe-se os povos e seus costumes no que se refere a vestuário, alimentação, habitação, convenções sociais, morais, etc.

     O homem aprende comportamentos, adquiridos e transmitidos. Quando nasce, encontra-se despreparado geneticamente para responder aos estímulos imediatos do meio ambiente, pois não tem condições de sobreviver e suprir suas necessidades básicas. Aprende a comer, falar, a andar e executar atividades que o capacitam a assumir o seu papel. Na infância e adolescência, recebe um aprendizado que o torna apto a conviver com o grupo do qual ele faz parte.

     O homem reúne-se em grupos que, por seus meios e modos peculiares, poderíamos chamar de sociedades; por sua vez, estas formam um conjunto de conhecimentos, hábitos e costumes: a cultura. Assim, cada sociedade humana tem sua cultura.

     Toda vez que o homem, através do tempo e em qualquer lugar da terra, descobre, constrói, modifica, inventa, desenvolve conhecimentos, está acumulando cultura.

     Edward Tylor definiu cultura como aquele todo complexo de costumes, leis, arte, moral, religiões ou credos, como capacidades e hábitos desenvolvidos pelo homem como membro da sociedade.

    Ashley Montiga já diz ser cultura a resposta para as necessidades do homem.

    Herskovits nos ensina que cultura é a parte do ambiente feita pelo homem. Salienta-se, aqui, que não seria o ambiente natural, mas o sociocultural.

     O homem detém categorias culturais diferenciadas dos outros animais: a tecnologia, a tradição, o progresso, o poder de pensar, racionalizar e refletir.

     Vamos regredir no tempo supridas suas necessidades primárias (sobrevivência e procriação), o homem sentiu anseio de comunicar-se. Então, descobre a música, a mais antiga forma de linguagem, posteriormente, combina a música à fala na expressão única do canto, adaptando o aparelho respiratório e e ultrapassando suas limitações.

     A esta altura, ritualista e místico, dominando diversas linguagens, o nosso homem moderno quer transmitir o que aprendera, surge a escrita. As descobertas, escrita rupreste ( rupestre é o termo que denomina as representações artísticas pré-históricas realizadas em paredes, tetos e outras superfícies de cavernas e abrigos rochosos, ou mesmo sobre superfícies rochosas ao ar livre), hieróglifos, artefatos, etc, dão-nos a visão do homem universal.

     Do exposto, vimos que a cultura, embora tenha origem na capacidade mental, não é um processo isolado. Gonzaga de Mello esclarece que ela não será, com certeza, a simples soma de experiências individuais, interiorizadas em cada indivíduo da sociedade. É, antes, uma resultante dessas experiências, cristalizadas sob as mais variadas for mas como documentos, escritos, obras de arte, fitas magnéticas, fotos, filmes, etc. Um fato de fácil constatação é que um indivíduo, por mais "culto" que possa ser (no sentido de quantidade e intensidade de culturas aprendidas}, não consegue jamais conhecer toda a sua cultura.
Para Julieta de Andrade, a cultura existe na comunicação e manifesta-se em duas modalidades: a erudita, que procede do ensinamento direto, ministrado através das organizações intelectuais — universidades, academias, escolas, igrejas, imprensa, cinema, etc. Outra, a espontânea, é aprendida de maneira informal, na vivência do homem com seu semelhante, do nascimento à morte. Pela ação dessas moda/idades, surgem as culturas comerciais, de consumo: a popularesca, comumente chamada popular, e a cultura de massas, produzidas pelas grandes e complexas empresas. 

     Os fatos de cultura espontânea dizem respeito à Ciência do Folclore, ramo da Antropologia Cultural, que estuda as manifestações espontâneas do homem na sociedade letrada.

     Sendo expressão de cultura popular, o folclore envolve todos os campos da atividade humana, tanto materiais como espirituais com seus ritos e lendas, histórias, provérbios, adivinhas e parlendas; danças, artes e artesanato, crenças e crendices. Manifesta-se na técnica da bordadeira, dos trançadores, dos arreieiros, na modelagem, cestaria e tecelagem artesanais; nas festas e folguedos em suas funções específicas; na homenagem aos santos padroeiros, nos ciclos natalinos, juninos.

     É o acontecer de cada um, historiado nos ritos de passagem: batizado, comunhão, noivado, casamento... O aprender crescendo, exercitando o corpo e a a Ima na lúdica, nas rodas cantadas, onde os valores começam a se delinear; o ensaio da Infância no acalanto da bruxinha de pano ao futuro desempenho.
Ê fonte inesgotável que vivifica obras literárias e artísticas. Aproveitado na escola primária, o folclore contribui à formação psicossocial da criança pelo caráter de nacionalidade que imprime. A nível de segundo grau, conscientiza na medida de sua importância como cultura detentora de valores que devem ser respeitados e protegidos.

     No curso superior, passa a ser estudado com maior profundidade, através de suas implicações antropológicas, sociológicas, psicológicas e estéticas.

     Conhecendo, assim, os fatos de sua cultura espontânea, a sociedade estará melhor capacitada a reagir, face a descaracterização de seus usos e costumes.

Fonte: RS Aspectos do Folclore
Martins Livreiro Editor

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Locais de votação na Assembleia Geral do MTG

1ª RT - CTG ESTÂNCIA DA AZENHA  -  AV. AURELIANO DE FIGUEIREDO PINTO, 155 - PRAIA DE BELAS - PORTO ALEGRE .

2ª RT - CTG DAVID CANABARRO - RUA GENERAL DAVID CANABARRO, 72 - CENTRO - ARROIO DOS RATOS

3ª RT - CTG 20 DE SETEMBRO - AV GETULIO VARGAS, 477, CENTRO - SANTO ÂNGELO

4ª RT - CASA DO MOVIMENTO TRADICIONALISTA (SEDE DA 4ª RT) AV INÁCIO CAMPOS DE MENEZES, S/N - COMPLEMENTO ANEXO SUL DO ARQUIVO  HISTÓRICO MIGUEL JAQUES TRINDADE, SANTO DUMONT - ALEGRETE

5ª RT - CTG ESTÂNCIA ALEGRE - BR 471 - VILA SCHULTZ - SANTA CRUZ DO SUL

6ª RT - CTG MATE AMARGO - AV ITÁLIA, 1532 - VILA MARIA - RIO GRANDE 

7ª RT - SEDE DA 7ª RT - AV DR. CÉSAR SANTOS, 295 - CIDADE UNIVERSITÁRIA - PASSO FUNDO

8ª RT - SINDICATO RURAL MUITOS CAPÕES ( SALÃO ANEXO) - RUA DORIVAL ROVEDA, 611 - CENTRO - MUITOS CAPÕES

9ª RT - CTG QUERÊNCIA DA SERRA - RUA GENERAL OSÓRIO, 1955 - MALHEIROS - CRUZ ALTA 

10ª RT - CTG GRUPO NATIVISTA OS TROPEIROS - AV PADRE ASSIS, 129- SÃO JORGE - SANTIAGO

11ª RT - CTG LAÇO VELHO - RUA QUINZE DE NOVEMBRO, 125 - CIDADE ALTA - BENTO GONÇALVES 

12ª RT CCT RANCHO CRIOULO - AV INCONFIDÊNCIA, 1035 - CENTRO - CANOAS

13ª RT - SEDE DA 13ª RT - AV ITAMBÉ, S/N - QUIOSQUE 1 - CENTRO - SANTA MARIA 

14ª RT - CTG SINUELO DAS COXILHAS - RUA DR. FLORES, 46 - CENTRO - ESPUMOSO 

15ª RT - CTG OS LANCEIROS - RUA OSVALDO ARANHA, 2133 - MONTENEGRO

16ª RT - CTG CAMAQUÃ - RUA PE. HILDEBRANDO PEDROSO, 277, GAÚCHO - CAMAQUÃ

17ª RT - CENTRO CULTURAL PROF. MOZART PEREIRA SOARES - RUA GENERAL OSÓRIO , 840 - PALMEIRA DAS MISSÕES

18ª RT - PARQUE TRADICIONALISTA RINCÃO DAS CARRETAS - JARDIM EUROPA - SÃOGABRIEL

19ª RT - SEDE 19ª RT - AV. PEDRO PINTO DE SOUZA , 115 - CENTRO - ERECHIM 

20ª RT - CTG RECANTO VERDE - RUA ABC, 1738 - 1758 - S/B

21ª RT - CTG SINUELO - RUA CONSELHEIRO BRUSQUE, 153 - CENTRO - CANGUÇU -

22ª RT - SALA DALTRO VALIM (JUNTO A SEDE CTG O FOGÃO GAÚCHO) - RUA GENERAL FROTA, 2535 SALA 01 - CENTRO - TAQUARA

23ª RT - PARQUE DE RODEIOS JORGE DARIVA (GALPÃO DA ADMINISTRAÇÃO) - AV CROSLDO AMARAL, S/N - OSÓRIO

24ª RT - CTG QUERÊNCIA DO ARROIO DO MEIO - RUA SÃO MIGUEL, S/NMEDIANEIRA - ARROIO DO MEIO

25ª RT - SEDE DA 25ª RT - RUA TEIXEIRA DE FREITAS, 1461 - SAGRADA FAMÍLIA - CAXIAS DO SUL

26ª RT - CTG OS FARRAPOS - PATIO EXTERNO - RUA RAUL POMPEIA, 1400 - TRÊS VENDAS - PELOTAS

27ª RT - PARQUE DE EVENTOS MARIO BORGUETTO - SÃO FRANCISCO DE PAULA - RUA NAURO DE ALMEIDA, 155 - DISTRITO DE LAGEA DO GRANDE - SÃO FRANCISCO DE PAULO 

28ª RT - CTG RODEIO DA QUERÊNCIA, RUA GARIBALDI, 398 - APARECIDA - FREDERICO WESTPHALEN 

29ª RT - CTG DOZE BRAÇAS - RS-126, 1 - SANANDUVA

30ª RT - CTG M’BORORÉ - RUA PROFESSORA LIANE DA ROSA, S/N - CELESTE - CAMPO BOM 



Antonio Augusto Ferreira - 13 anos sem o gênio das composições gauchescas

   

   O escritor, poeta, compositor, e ainda, advogado Antônio Augusto Ferreira morreu aos 72 anos, em Santa Maria, em consequência de um tumor no cérebro, no dia 17 de fevereiro de 2008. Por tanto, hoje, completam 13 anos sem essa genialidade da poesia gaúcha.

     Nascido em São Sepé, em maio de 1935, Ferreira foi integrante da Academia Rio-Grandense de Letras e da Academia Santa-Mariense de Letras (ASL). Em 1980, ganhou a Califórnia da Canção Nativa com a música Veterano, feita em parceria com Ewerton Ferreira, que falava sobre o tempo do homem na Terra.

     Premiado em diversos festivais de música, escreveu cinco livros e uma obra que chamam atenção pela musicalidade e pela inspiração no universo campeiro. Em Santa Maria, cidade que adotou a partir de 1973, era oficial do Registro de Imóveis. Viveu 12 anos com o mal de Parkinson. Mas foi o avanço de um tumor no cérebro que silenciou o autor de poesias e canções inspiradas pelo universo campeiro. 

    O compositor passou a infância em São Sepé e despertou sua veia poética na adolescência. Dos 14 aos 23 anos, começou a se dedicar à produção literária. Com o nome de Tocaio Ferreira, passou a publicar, nos anos 50, poemas em jornais como A Hora e Correio do Povo. Viveu em Porto Alegre, Passo Fundo, Sananduva e Pelotas, onde cursou Direito. Ao partir, Ferreira deixou quatro filhos e a esposa, Letícia.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Comissão Gaúcha de Folclore elege nova Diretoria

Acima, Rogério Bastos ao centro, abaixo Renata Pletz e Marco Aurélio Alves

     A Comissão Gaúcha de Folclore (CGF) realizou na tarde de hoje (16/02) sua assembleia geral ordinária virtual para eleição da nova diretoria, gestão 2021-23. Por unanimidade, foi eleita a chapa que tem Rogério Bastos como presidente, Marco Aurelio Alves como 1° vice e Renata de Cássia Pletz para a 2ª vice-presidência.

     Aimara Bolsi será a 1ª secretária e Vera Aguiar a 2ª secretária. Paula Simon Ribeiro foi eleita 1ª tesoureira e Daniel Zardo como 2° tesoureiro. A Diretoria de Eventos ficará a cargo de Paulo Elias e Delurdes Costa. Como diretores de Interior, Rui Rodrigues e Mara Muniz, enquanto Maria Eunice Maciel assume a Diretoria de Pesquisa e Publicações. Na área de Comunicação, assume Erika Hanssen Madaleno.

     Entre as diversas metas da nova Diretoria, estão a promoção de exposições itinerantes pelo Estado, a realização do 2º Forum Estadual de Folclore, a recriação de um programa radiofônico sobre Folclore, a publicação do livro dos 75 anos da CGF e, especialmente, realizar um trabalho especial sobre os 70 anos da Carta do Folclore Brasileiro.

     A Comissão Gaúcha de Folclore foi fundada em 23 de abril de 1948 por Dante de Laytano, que reuniu um grupo de intelectuais, artistas e professores universitários com o objetivo de estudar as manifestações da cultura popular do Rio Grande do Sul. 


      A CGF é filiada à Comissão Nacional de Folclore juntamente com as outras 24 Comissões de outros estados e, como as demais, segue as diretrizes da Carta do Folclore Brasileiro, aprovada em 1951 durante o I Congresso Nacional de Folclore no Rio de Janeiro, revista em 1995 durante o IX Congresso Brasileiro de Folclore realizado em Salvador.

Erika Hanssen Madaleno
Jornalista - 4728 MTB

sábado, 13 de fevereiro de 2021

CGF convoca associados para assembleia on line, dia 16

 


Festerê - Inscrições abertas para espetáculos e oficinas

 

ATENÇÃO ARTISTAS GAÚCHOS: INSCRIÇÕES ABERTAS PARA O FESTERÊ!

-  Seleção de 18 espetáculos teatrais infantojuvenis;

- Seleção de 9 oficinas artísticas para os segmentos teatro, circo, dança, música, literatura, artes visuais e brincadeiras populares.

CACHÊ POR ESPETÁCULO: R$ 2.000,00

CACHÊ POR OFICINA: R$ 1.200,00

Acesse o nosso site, leia o regulamento e se inscreva.   www.grupoborogodo.com.br 

     Do dia 2 a 22 de fevereiro os artistas, grupos, coletivos, companhias teatrais e oficineiros de arte do Estado do Rio Grande do Sul poderão inscrever seus espetáculos teatrais infanto-juvenis e oficinas para os segmentos teatro, circo, dança, literatura, artes visuais e brincadeiras populares para esta edição do Festerê, que em virtude da pandemia, será TOTALMENTE ONLINE.  Toda a programação será oferecida de forma gratuita, com medidas de acessibilidade e inclusão.

     A programação pretende mostrar a diversidade do teatro gaúcho a fim de, junto de uma grade exclusiva de oficinas, estabelecer pontes de diálogo, arte e entretenimento de qualidade com o público neste período de isolamento social. 

 Siga nossas redes sociais e acompanhe de perto o Festerê! @grupoborogodo

Este projeto é realizado com recursos da Lei n° 14.017/2020

Fonte: Alessandra Motta

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Internacional - Escalação para o Grenal do século (12/02/1989)

 

Luís Carlos Winck, Taffarel, Nenê, Norberto, Casemiro e Aguirregaray.  

Maurício, Leomir, Nilson, Luis Carlos Martins e Edu Lima.
Técnico: Abel Braga

     Era 12 de fevereiro de 1989, um domingo quente, os termômetros marcavam perto dos 40ºC na capital gaúcha. Quase 80 mil torcedores no Gigante da Beira-Rio. E um clássico que entrou para a história como o Gre-Nal do Século.

     O Grêmio começou na frente, com gol de Marcos Vinícius. E logo ficou com um jogador a mais, após a expulsão de Casemiro. Mas o técnico Abel Braga (que anos depois seria campeão da Libertadores e do Mundial), decidiu ousar. Substituiu o volante Leomir pelo atacante uruguaio Diego Aguirre, e foi pra cima do Grêmio. Deu certo: a virada veio com dois gols de Nilson, no segundo tempo (um cruzamento de mauricio da direita e um de Edu, pela esquerda). Que garantiram a vaga na final e um lugar na história. 

Nota de Falecimento - Jovem Luís Fernando Fernandes da Silva

 


     Mais um jovem que nos deixa, ontem, quinta-feira, 11, no auge de seus 34 anos. Luís Fernando Fernandes da Silva, era atleta (formado em Educação Física), dançarino de CTG, um apaixonado pela vida mas que não resistiu a uma triste doença que assola a humanidade: Câncer. Os atos fúnebres estão sendo realizados na Capela Madre Tereza, ao lado do Cemitério Municipal. O sepultamento será realizado hoje, as 14h.

    As diversas manifestações de amigos e de entidades tradicionalistas mostra o quanto ele era querido por todos.

"Hoje a tristeza pealou-me
E a dor está dentro do peito
O luto se impõe por respeito
E como um ritual entre os homens.
Peço a Jesus, santo nome,
E a sua mãe, Nossa Senhora,
Que me ampare nessa hora.
Preciso reunir coragem
Pra enfrentar essa passagem
Até que essa dor vá-se embora" (Mano Terra)

     Hoje, a família Presilha Pampiana se despede com o coração apertado e com muita tristeza desse amigo tão querido. Gratidão por ter feito parte de nossa história, gratidão por ter compartilhado com a gente tantos sorrisos. Siga encantando pelos pagos aí de cima, e que o Patrão Velho te receba de braços abertos.

PL Delfino Carvalho

"Quando um de nós se vai, um pedaço da gente parte junto. Nosso amigo Luís Fernando Fernandes nos deixou no dia de hoje, ele foi membro da nossa entidade e um amigo muito querido, por quem expressamos nosso profundo sentimento de saudade pela sua partida. Desejamos a família força neste momento. Nando teu sorriso e tua presença de espírito sempre estarão vivas em nossos corações! Vá em paz guerreiro!"

Descansa em Paz Luís Fernando.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

11 de fevereiro: Dia do Campeiro | Homenagem à Maneco Pereira

  Não podemos deixar de registrar a data de hoje, 11 de fevereiro, que marca o dia do campeiro. O patrono deste dia é "Maneco Pereira, o homem que laçava com o pé".

    Manoel Bento Pereira, ou Maneco Pereira, foi o maior laçador que o Rio Grande do Sul conheceu em todos os tempos. Ele nasceu no dia 18 de junho de 1848, no município de Rio Pardo. Ainda criança, foi com a família para a "Estância do Curral de Pedras", no município de Rosário do Sul, onde seu pai trabalhou de capataz.

   A "Curral de Pedras" era no século XIX uma das maiores estâncias do sul do estado. Hoje ela está dividida em mais de 10 fazendas, todas de regular tamanho, o que demonstra sua grandeza. O rebanho de gado alcançava mais de 42 mil cabeças.

   "Maneco Pereira" foi um laçador que tanto pealava e laçava com as mãos como com os pés, e não fazia isso por acaso, bastava advir ocasião. Com o laço nas mãos só não fazia chover. Era como um artista fazendo demonstrações da sua arte, num palco de diversões.

          Faleceu no dia 11 de fevereiro de 1926 tendo sido sepultado no dia seguinte no Cemitério do Joanico, situado no Batovi.



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Uma reflexão sobre o tradicionalismo, na visão de Diego Muller

 O TRADICIONALISMO

Diego Muller

     A palavra Tradicionalismo não é nova, é muito antiga. Define uma prática.

     O Tradicionalismo Gaúcho também não é, e não nasceu em 1947... Ali ele somente ganhou a dimensão e as teorias bases, mais adequadas para sobreviver, da maneira mais longeva possível.

     Pode também haver Tradicionalismo em vários outros seguimentos, além do Gaúcho: o Tradicionalismo alemão; Tradicionalismo do ítalo; do açoriano; dos açoritas; das culturas afros; ameríndias; mestiças; etc. 

     No nosso caso, aqui, estamos acostumados somente com o ato do “ismo” em cima da nossa Tradição Gaúcha.

     Interpretando a palavra, temos a Tradição e um "Ismo”... “Ismo” que significa doutrina, sistema, teoria, tendência, corrente etc., uma palavra que identifica um ato formador de conceitos de ordem geral e coletiva. Tradicionalismo é, portanto, uma palavra que mostra uma clara militância acerca de manter Tradições, sendo a “tendência da Tradição”, a “sistemática da Tradição”, a “corrente da Tradição”, as “teorias da Tradição”, as “doutrinas das Tradições”... Ou, a “manutenção das Tradições” (lê-se manutenção, como sinônimo de “manter”). Em resumo, interpretando-a: sem ter Tradição, não compete abrangência ao Tradicionalismo (...talvez, quem sabe, um dia, lá na frente!... Se não for algo fútil, modista, passageiro e efêmero). 

     O Tradicionalismo faz militância apenas pelo que ficou e realmente fica, no seio do povo (lê-se povo, não como multidão ou nichos).

     Esse “ismo” sendo corrente, possui definições interpretativas e norteadoras claras... Que não são opiniões. São estudos.

     Só lembramos que, Tradicionalismo não existe somente – e nem deve existir somente – dentro de Instituições, Clubes e Centros, como conhecemos. É um ato em prol de uma verdadeira “doutrina”, que pode ser solitária ou desinstitudionalizada.

     O Nativismo, já é uma outra corrente, que milita e propaga o que é Nativo, porém não necessariamente que ainda possui tradição ou que é tradicional (por isso, nele, há, pode e deve haver muitos temas pessoais inseridos, como no caso das músicas, que contam passagens particulares com roupagem regional). Ele está abraçando, de maneira muito forte, o meio dos Festivais Nativistas, que ocorre espontaneamente, sem “lideranças”, desde 1971, gerando milhares de poemas, letras, melodias, músicas, cantores, músicos e álbuns, periodicamente. Mas cremos que pode ser o Nativismo uma outra forma de chamar o Regionalismo, pois tem elas as mesmas abrangências praticamente, porém sempre foi usado de maneira mais próxima à literatura, principalmente “romântica” e de ficção. 

     Mas não podemos nos esquecer também do Gauchismo, uma outra corrente, geralmente mais agressiva e, de modo geral, algo “anacrônica”. Temos muitos gauchistas dentro do Tradicionalismo. 

     Há outras tantas correntes, sem “ismos” em suas definições populares... Como a militância ao Chamamé, em Corrientes, na Argentina (quase que uma “religião”, porém sem uma definição assim)... Ou quanto às tradições germânicas, muito forte em algumas localidades do Rio Grande do Sul... Etc. e etc.

     Mas a ideia aqui não é detalhar cada corrente, mas sim citar que elas existem, para entender o quanto que a confundimos, quanto as suas teorias, ou quando não as estudamos, as esquecemos, tratamos com desleixo ou as deixamos a um “Deus dará”. 

     Sabemos que existem preconceitos, quanto a essas “caixas” – muito do reflexo das modernas épocas de globalização, sem fronteiras e sem tapumes – mas, de modo geral, para quem trabalha individualmente, elas não interferem muito. Alguém que faz Nativismo, não precisa nem saber que faz Nativismo. Quem faz Tradicionalismo, também não precisa saber que faz Tradicionalismo. Porém, institucionalmente, aí sim: tudo deve ser explicado, ensinado, praticado e levado adiante, para a manutenção coletiva, como é a proposta de uma organização institucional para as correntes (ou há outra?). As “caixinhas” ou “gavetas” existem de maneira mais para a teoria, para os estudos sociológicos e filosóficos – como o que aqui tentamos fazer, de maneira humilde – e para quem escreve e as define, saber sobre o que escrever ou definir (ou é saudável se fazer isso sempre instintivamente?).

     A Tradição é um ato coletivo e não individual. O Tradicionalismo, portanto, também é um ato coletivo. É a manutenção de práticas coletivas, não individuais. E aqui também devemos diferenciar a Arte, do que é uma Tradição – como já nos diferenciaram nossos folcloristas todos, principalmente J.C Paixão Côrtes e L.C Barbosa Lessa. A Arte é uma prática individual, que pode ser aplicada também a um grupo, mas que tem assinatura, propagando numa prática especifica uma visão pessoal (e sempre louvável, devemos dizer). Já Tradição é o reflexo de práticas coletivas, sem nome, sem sobrenome, geradas e propagadas de maneira espontânea, em determinados locais e povos.

     Em resumo: Tradicionalismo é coletivo; Arte é individual (importante que se diga). Quem cria assina... Tem de assinar... E assinando, reflete um individualismo, e não um coletivo! E há local específico para isso... Não podemos confundir os locais e as definições!

     Hoje também se comenta muito sobre: “representar na dança”... “Representar a dança”... “Representar o Gaúcho”... “Representar uma época”, “um personagem”, “um fato”, e tanto mais... Tudo! Até uma interpretação!

   O Tradicionalismo não é uma Representação! 

      No Tradicionalismo não se representa nada. Absolutamente nada. Essa é uma tremenda falha que cometemos e, constantemente, inclusive é replicada didaticamente dentro do nosso meio, o que mostra o quanto estamos enfraquecidos em termos das teorias basilares e filosofias geradoras e da nossa própria manutenção. E aí devemos voltar lá para o início de tudo, daquele 1947, ano que deu “a dimensão e as teorias fundamentais mais adequadas para sobreviver de maneira mais longeva possível” e muito foi propagada pelos mesmos folcloristas citados acima. Devemos voltar às definições de que: Folclore é que é Vivência; enquanto Tradição é que é Culto... Ou: o Espontâneo é da vivência; enquanto o Programado é do Culto.

   Então... Tradicionalismo é Culto, apenas Culto.

     Muitos criticam essa definição – ver entrevistas de Paixão Côrtes, no próprio YouTube, para entenderem – defendendo as suas vivências Tradicionalistas. Todos, dentro dessa prática, possuem suas vivências Tradicionalistas, claro, da mesma maneira que todos possuem suas vivências também religiosas, profissionais, sentimentais, familiares, de entretenimento e tantas mais. Dentro do Tradicionalismo a chamada “Vivência Tradicionalista” serve, justamente, para sabermos como propagar e manter a nossa Tradição, ao invés de defende-la como um ato próprio maior do que a vivência do outro colega ou de outros grupos. A Vivência Tradicionalista é a experiência em sabermos como levar essa “corrente”, de maneira saudável, adiante. A teoria dos folcloristas fala de outra coisa, exatamente outra, onde “o que devemos levar adiante é o que cultuamos, não o que vivemos”. Posso viver dentro de um CTG, de todos os modos possíveis... Mas devo cultuar dentro dele e para as pessoas que ali se associam, o que a cultura da nossa sociedade gaúcha construiu. 

   Vivência é uma coisa... Culto é outra.

   Vivemos o nosso dia-a-dia... Cultuamos o que queremos manter!

   Cultuar uma Entidade, porém, é manter o Clube, não o nosso Estado... Cada um de nós deve fazer muito mais! Muito mais que isso! Devemos Cultuar o nosso, a Cultura do 'nosso local'... O nosso verdadeiro lugar, com os verdadeiros "padrões" que nos identificam.

   Não existe Tradicionalismo sem símbolo!

   Não existe Tradicionalista se não Cultuar!

     Quando representamos algo, erramos... Podemos errar muito... E só permanece nisto, no ato representativo, quem tem a qualidade para esse ato, “quase teatral”. Quando cultuamos não erramos, ou erramos muito menos. Cultuando todos acertam, pois se reverencia um signo, um objeto, um fato ou cena que merece adoração. Culto é exatamente isso: uma homenagem, devoção, adoração, idolatria, latria, louvor, preito, reverência, tributo, veneração e tantos sinônimos mais (representação é outra coisa: é retratar, caracterizar, reproduzir, teatralizar, etc.).

     Não representamos um baile, por exemplo... Nem "Fegadan", nem "Enart" imita um baile – isso é ilusão criada por alguém, para um evento específico, mas nunca foi baile. Não representamos uma dança... Cultuamos uma dança! Não representamos um fato... Reverenciamos um fato! Não representamos um tema... Veneramos um tema! Não representamos o nosso Gaúcho ... Fazemos um verdadeiro tributo ao nosso tipo Gaúcho! É justamente outra a definição e outra a importância... Cultuar é muito maior que representar!

     Por isso não existe dança para Mirins, danças para Juvenis, para Adultas e Veteranas, afora as que possuem o uso de arma-branca e de bebida alcoólica. Todas as idades têm direito de cultuar o nosso lugar e os nossos elementos. Quando representamos, criamos conotações, até sexuais, em cima de crianças e adolescentes. Quando representamos, criamos cenas anormais – e algo caricatas, como mãos no queixo, na cintura, no casaco e etc. – justamente para mostrar, igual como num filme ou num teatro, o que o coração não sente e nunca sentiria, mas a obrigatoriedade de um evento ou de uma instrução pede para fazer. 


     
Mas o que cultuamos? O que reverenciamos? O que veneramos?

     Se reverenciamos, reverenciamos algo concreto. Deve ser concreto. Se cultuamos, existe algum “objeto” de adoração... Algum ícone, algum signo, algum modelo... 

    Um símbolo!

     O Pezinho é um símbolo nosso. O fichú é um símbolo nosso. A bombacha é um símbolo nosso. O arroz de carreteiro é um símbolo nosso. O modo de atar uma espora aqui é um símbolo nosso. O lado de laçar ou de montar são símbolos nosso. A saia de corredor é um símbolo nosso. E tantos e tantos mais, em todas as áreas regionais que possamos imaginar. 

     Esses modelos foram buscados onde?

     Se buscou justamente no Folclore, que é uma camada mais profunda que o Popular e muitíssimo mais profunda do que simplesmente “ter acontecido no nosso Estado” apenas (ainda se acredita que tudo o que aconteceu aqui é um fato gaúcho). É um nível realmente simples e pobre, onde os nossos elementos mais verdadeiros se mantiveram, por mais tempo. Buscou-se no povo. Do Folclore, que é uma Ciência que estuda a profundidade desse povo – e, neste nosso caso de Tradicionalismo Gaúcho, que estuda o povo rural, descendente direto do tipo Gaúcho – se relacionou, “elencando” através da pesquisa, da análise e de uma conclusão, o que seria, sim, um símbolo identitário da nossa terra e do nosso lugar, de maneira verdadeira ou mais verdadeira possível: autêntica ou mais autêntica (a autenticidade se explica através do conhecimento: não é uma utopia não). E esses símbolos – sinais, atributos, ícones, insígnias, marcas, signos – foram identificados em todas as áreas: da dança, da música, da poética, da interpretação, da personalidade, do trajar, da culinária, do se portar, dos valores. Mas eles não foram simplesmente jogados ali. Foram identificados no tempo, na Sociabilidade, na História e na Geografia – estudando outras Ciências – para não se pecar ao cultuar esses símbolos. Por isso que (exemplificando), com o Chiripá Fralda ou o Chiripá Saia, aqui no Rio Grande do Sul, os instrumentos proporcionais são a Viola e a Rabeca, recobrindo danças Fandanguistas – “Tiranas”, “Anús”, “Tatus” – com cantos anasalados e “modus” proporcionais, que simbolizam também esse período (não que representam, mas que simbolizam).

     Dançar uma "Tirana" com gaita, resolve paliativamente o problema... Mas com viola e rabeca, é e fica mais autêntico, mais verdadeiro. A autenticidade é uma busca, não uma fórmula. É um símbolo puro a de buscar se estudar sempre. 

     Nem citarei a “Invenção da Tradição”, “bíblia profana” (e “marxista” – como aprendi) de muitos Tradicionalistas atuais, se não de quase todo o meio... Não entendendo que, sim, o ato de concorrer pode ter sido “inventado”, mas o que se dança dentro do concurso é, na verdade, um símbolo recolhido, estudado, elencado e divulgado didaticamente. Ou seja: é verdadeiro!!!

     Nem citarei a "Projeção do Folclore", pois isso merece também outro grande texto, com outras teorias também concretas e distantes de opiniões simplistas. 

     ...Sim, como citado acima: nossos Valores também são símbolos nossos, a se manter. Todos. Os pesquisadores mesmo, trouxeram à tona elementos que estavam "sem valor", dando o seu "real valor" a cada um (esse foi o propósito maior). E nossos valores não são somente sociais. Esses são importantes, e todo Clube deve de repassar: de Futebol, Volei, de Natação, etc. Qualquer um tem, ou deve ter, e qualquer um repassa. Nossos valores são muito mais do que apenas isso. São valores inclusive materiais, de imagem, valores instrumentais, de trajar, de dançar, de cantar, de história, etc. Temos de "dar valor" ás coisas nossas que estão, ainda ou periodicamente, sem valor. O pequeno ato de trabalho de uma costureira a mão, ou de uma bordadeira, ou de um guasqueiro, ou de um prateiro, etc., é valorizado e impulsionado "tradicionalisticamente" se dermos realmente valor a ele (bordar na máquina, por exemplo é dar realmente valor ao nosso artesanato local, por exemplo? Pensem nisso!). 

     Mas dissemos valor, não preço! 

     Mas Tradicionalismo não é só sentimento não... Há a imagem, justamente para propagar os valores do nosso trajar, dos nossos instrumentos típicos, das nossas danças, sabendo o que estamos fazendo... se não, fica que nem Nico Fagundes disse certa vez: que estamos fazendo risoto de charque, achando que estamos fazendo arroz de carreteiro (não é isso será que estamos fazendo há anos não?).

     Esses símbolos todos são imorredouros... Imexíveis. Impossível de se mudar, pois foi o tempo quem os criou, os fez assim e, o próprio tempo, os matou. Simplesmente. Se morrerem ou se mudar, não é símbolo nosso. Não podemos colocar “nossas cores e sabores” individuais ou atuais em algo que aconteceu exatamente de uma determinada maneira (mesmo que não saibamos o porquê daquilo ou tenhamos dúvidas ainda de seus porquês). 

De novo: o individual não é Tradição, não é tradicional, não é coletivo; pode ser a minha tradição, a tradição pessoal de uma família ou de um local, mas não a de um povo ou de um local mais amplo, de um Estado; e o individual assinado já é arte, e não Tradição.

      As pessoas podem até não concordarem, ou se sentirem “ameaçadas” com essas colocações... Mas, perdoem, é assim. Sempre foi assim, desde o começo do Tradicionalismo. Sempre as teorias – inclusive institucionais – se lavraram e se consolidaram exatamente em cima disso, exatamente isso. 

Paciência!

     Quando os nossos teóricos e folcloristas falam em “levar adiante nossa cultura e nossos valores”, “disseminá-los”, “se atualizando no tempo”, não significa, em nenhum momento, modificar nenhum desses símbolos recuperados, analisados, concluídos e ensinados... Em nenhum momento é isso. Não posso modificar um Pezinho ou uma Bombacha ou um fichú ou os nossos instrumentos típicos – ou ainda adicionar outros, como um " cajón" – só porque essas “mudanças” abraçarão e trarão mais adeptos ao nosso meio (ou nossa Instituição). O que é, é... Simplesmente. 

     Quando eles citaram para “levar adiante nossa cultura”, “dissemina-la” e “se atualizar no tempo”, era justamente para se utilizar as tecnologias atuais e mais modernas, para ensinar cada símbolo desse – imorredouros e imutáveis – às gerações mais novas. Não se transforma Vaneira em Hip-Hop, só porque a juventude de hoje entende muito mais sobre Hip-Hop. O que se deve fazer é, na verdade, utilizar as ferramentas mais modernas para levar a Vaneira, de maneira verdadeira, a quem é ou gosta de Hip-Hop, possibilitando-o a também gostar de Vaneira, o tanto quanto. 

Símbolos não se mudam... Se ensinam!

     Agora, podem até nos citar aquela máxima de que: tudo se atualiza no tempo, vindo á mente o caso da Bombacha curta ou da Bombacha Feminina nesse caso, não!?

     Claro que tudo se atualiza... Ou se acaba! Mas, não posso cultuar o traje de 1900 me trajando como 2000. Não posso dançar 1850 com danças de 2010. Não posso reverenciar 1800 com os símbolos de 2020. É outra coisa. Não se cultua o traje germânico se vestindo como ítalos. Não se cultua o cantar açoriano em espanhol. Não se cultua a alimentação hispânica com carne de caça russa. Não se cultua o Rio Grande do Sul cantando e dançando "Chacareras" e vestindo “faixas pampas” (os “castelhanistas” ficarão “pês” da vida com essa frase – mas tô "bem costiado").

     Tudo se atualiza, mas não se cultua algo nosso – do gaúcho ou do descendente do tipo gaúcho: não o gentílico – com elementos que não chegaram no nível folclórico profundo. Só o popular: não é nosso. Só em estar aqui: não é nosso. Estar e se usar aqui há alguns anos: tambem não é nosso. Ter estado aqui e ter sumido em um breve período: não é nosso. O Folclore cita algo em termos de três décadas, para ser considerado folclórico e, afora isso, é ou foi “modismo” efêmero e passageiro. E mesmo assim, pode ter estado mais de três décadas aqui e também nunca nem ter sido popular. 

     E é isso o que o Tradicionalismo atual, na grande maioria das vezes prega, pecando. 

     Uma Instituição deve cuidar, acima de tudo, da cultura... Não somente dos seus associados. Nem sempre os associados estão instruídos, seja em qualquer instância (nas bases, nos meios, nos cargos).

      Muito do Tradicionalismo atual não estuda, não sabe, nem se quer saber dos símbolos... Militando, na grande maioria das vezes, para até se “modificar” ou se “supor” elementos, para justamente poder abraçar mais membros (muitos membros dos quais amanhã, depois de uma certa idade, ganham novos ares e deixam o próprio meio).

     Só não se confunda o “tipo Gaúcho” com o “Gaúcho gentílico”. Por favor! Se todo ato que cultuarmos pode, na verdade, ser dito como apenas “rio-grandense” (gentílico) é de se duvidar se é ou não parte do Tradicionalismo. Pode estar no Rio Grande do Sul, mas não ter nada a ver com o “tipo Gaúcho” e com as nossas heranças. Pode ser parte do “Tradicionalismo germânico” por exemplo... “Tradicionalismo Ítalo”... “Afro”... “Indígena”... Etc., é estar erroneamente inserido no Tradicionalismo Gaúcho. Isso evitaria muitos enganos (como achar que o “flamenco” é gaúcho, o “Malambo” é gaúcho, "Paco de Lucía" é gaúcho... O cinema é do gaúcho, tal fato é gaúcho, tal pessoa é gaúcha... Mas, na verdade, talvez esses, não tenham, em nada, feito nada por nossa gente e nosso lugar).

Lembrem-se sempre: “tipo Gaúcho” e “Gaúcho gentílico” não são a mesma coisa.


     Ah... Sem citar – aproveitando a colocação acima – que sempre olhamos para os países vizinhos e seus eventos: Jesus-Maria; Las Criollas; Prado; Laborde; Cosquim; Festival de Corrientes; e tantos mais. Há uma idolatria por o verde do vizinho. Nem tudo o que acontece lá são flores, lembramos (e é verdade – acreditem antes de “copiar”). Temos de olhar para lá, sabendo que eles tem uma sociedade 200 anos mais antiga que a nossa, assim como a sociedade paulista, carioca e mineira (que tanto também nos influenciou com heranças luso-brasileiras e caboclas: não neguem essas origens não, elas somente tivera menos “propaganda”) e, sendo mais antiga, podem ter gerado e nos influenciado muito, mas não propagado aqui do mesmo modo (devido a sociabilidade, a politica, a religião, a geografia, a colonização e tanto mais). Cada local tem seus símbolos coletivos também locais, mesmo que seja uma pequena vila. O que vemos lá, nos nossos vizinhos, de maneira muito forte, é justamente o sentimento essencial muito arraigado, que aqui não temos mais, justamente porque o concurso nos tirou. Afora num "baile a moda antiga" aqui e ali. Lá, numa “peña” em “Quilmes”, na Argentina, por exemplo, vemos e vimos pessoas de campo – ou descendentes de tais – desde as 10 horas da manhã até as 22 horas da noite, num galpão simples – tipo um CTG daqui – em plena cidade, entoarem, homens e mulheres, seus trajes domingueiros, bailando seus temas rurais – somente os seus temas, nenhum de outros lugares ou países – e cantando de maneira visceral, as canções da sua terra – só as canções da sua terra. Esse sentimento nos falta. Mas esse sentimento, apenas. Os elementos, cantos, danças, trajes, cantos, temos os nossos próprios, que são – simples ou não, bonitos ou não – temos, tão nosso como os deles, podendo, sim, ganhar o mundo, como os deles ganharam, se por acaso um dia os adorássemos como eles fazem – sem querer sempre modifica-los, por acharmos que estão “atrasados no tempo” e não “conversam com a juventude”.

     Triste esse pensamento, não (um auto preconceito, será?)!?

     Temos uma certa preocupação quando seguidamente nos citam – e todos citam – em escutar as maiorias para definir os rumos Tradicionalistas, principalmente sabendo que, há anos ou décadas, estas gerações Tradicionalistas que temos foram doutrinadas somente para concorrer uns com os outros ou trabalhar dentro do meio, sem receber “quase nada” de didática, nem da diferença básica e fundamental – balizar – de diferenciar Vivência e Culto: a base real de todo o nosso Tradicionalismo, acreditem. A maioria, “treinada” para concorrer ou trabalhar, trará à tona somente preocupações de trabalho e de concurso. Sempre trouxe. E sem saber dos símbolos, não se preocuparão com eles. O que sempre deve de se fazer é escutar e ponderar isto com a nossa cultura realmente, acreditando que pode sim, o meio estar bem viciado, há décadas – muitas décadas.

      Se uma maioria decidir que o Pezinho terá de ser agora com a mão, a Instituição abraçará? Deve abraçar? Pensem também nisso!

     Quantas coisas não se perderam, só porquê a maioria quis assim? E quantas podem ainda se perder, se a maioria – preocupada com o concurso ou a profissão, apenas – quiser, sem se ponderar com os símbolos, os porquês e os futuros do que é realmente ser Tradicionalista?

      Hoje não temos mais nada a nosso favor. Absolutamente nada! 

     Não temos mais os folcloristas vivos (o que temos são instrutores lançando bibliografias); não temos instituições representativas nos Governos (como havia o IGTF); nossas matérias de pesquisas estão descompactadas e sucateadas nas instituições que existem (museus e bibliotecas); não temos mais técnicos folclóricos e pesquisadores; nossas publicações atuais são replicações do que já tínhamos desde 1951 (quando não, com textos exatamente iguais); não temos áreas de pesquisa dentro do próprio Movimento; o que os eventos jovens pesquisam não são nada publicados, nem em e-books; os congressos servem apenas para a votação; as poucas teses aprovadas lá não são publicadas; etc. Estamos sozinhos, realmente... a Instituição está sozinha... Quando não, nem com ela os que trabalham com a didática da cultura se está, há décadas. Somente com a organização de eventos, como é o sistema que temos, não vamos nos manter. Vamos nos matar. Como se a nossa relação atual com os nossos símbolos fosse ou estivesse sadio. Bem pelo contrário. Há anos estamos sozinhos. E sozinhos se esquece de que, só organizando eventos, não se mantém e não ensinamos didaticamente sobre a nossa sociedade gaúcha. Em resumo: há um meio cultural não leva cultura, mas leva prioritariamente a mensagem de que “devemos ser melhores que os outros”, enquanto os nossos símbolos, o que é nosso: “Ah, isso fica para depois, né!?... Vamos ajeitando aqui, como achamos melhor para o evento ou como as comissões querem!”

     Enquanto e proporcional a isso, os governos nacional, estadual ou estaduais e municipais, não possuem nem geram planos para o Tradicionalismo – onde a dança e o trajar se inserem fortemente, afora outras práticas existentes quase que só ali, como trova, contos e concursos instrumentais – e para a cultura gaúcha, afora festivais nativistas... Isso por acharem que as Instituições e os Centros já fazem a sua manutenção plena e de maneira sadia (nem nos projetos culturais da Aldir Blanc temos credibilidade e qualidade. E sim, também falta a qualidade sim). Mas grave engano... A cultura agoniza. Estamos sem espaços maiores para a cultura regional. E, sem espaços para se trabalhar com arte gaúcha na sociedade, com a cultura gaúcha em teatros, parques, praças e eventos públicos, os profissionais ficam somente dentro do Tradicionalismo, podendo voar e ganhar asas em outros planos maiores e mais amplos, em termos de criatividade... E penam, muitas vezes, dentro dele, buscando salários para pagar seus talentos. Quando o meio fica totalmente profissional, em tudo, daí – claro que – as correntes forçam para práticas somente e quase que exclusivas ao profissionalismo e ao concurso, fazendo com que os nossos símbolos sejam ou deixados de lado ou modificados, por pressão da maioria.

     Por isso que muitos citam que, hoje, o Tradicionalismo virou quase que um Nativismo, onde o individual – ou a exceção e o nicho – tem se sobressaído ao coletivo, constantemente.

     O Movimento Tradicionalista deve se reestudar, para se manter com o que sempre o balisou, abraçando novas práticas que nunca abraçou, já que seus sustentos culturais externos – todos – não existem mais.

    Só eventos não resolverá mais!

    Faltará alimento... E o "gigante" atrofiado tombará!

     Hoje, vemos logo ali as eleições novamente – anualmente é assim: 6 meses de trabalho e 6 meses de campanha. E todo ano vemos quase que só preocupações organizacionais, pois é assim que fomos doutrinados. São perguntas e respostas em prol do evento, do concurso, do que move isto, sem abrangências quanto às matérias que regem esses eventos (ou, quando não, deixando para a maioria, treinada somente para concorrer, decidir o que e como serão os rumos e as avaliações – sem preocupações maiores com o conteúdo, repetimos: com o que se deve realmente manter ou não é fútil). Tenho amigos bons administradores, que me citaram já, que estão no meio, assumindo responsabilidades, somente porquê sabem gestar e conduzir pessoas. Esse é o objetivo. Sempre foi. Fomos “treinados” – de novo – para isso. Mas esta na hora (se não agora, mas em breve, muito breve... E esperamos que, por mãos de pessoas com bases culturais, de teorias e dessa amplitude real que é ser Tradicionalista) para que haja verdadeiramente uma retomada cultural, preocupada com símbolos e a didática periódica deles (onde um simples “CFOR”, básico ou não, deixando para cada indivíduo ou entidade o restante do aprendizado, não cumpre com o papel).

    É, pessoal... Na nossa visão, a coisa é crítica. Culturalmente, que fique claro!

    A engrenagem funciona sim...

    ...Mas uma instituição cultural deve fazer cultura, não se utilizar dela para fazer o que outras sociedades também fazem... Se reunir!

    Repetimos, a sistemática funciona... 

    ...Mas quando se confunde Rio Grande com Corrientes, 1900 com 2000, cultura com esporte, vivência com culto, tradição coletiva com arte individual, símbolo com regra, padrão estudado com engessamento... E tudo isso, dentro do próprio meio... E tudo isso, sem ninguém nem citarei isso no mês das novas eleições... Bom, daí a coisa complica um pouco.

     ...Um pouco não: muito!...

     Mas, bueno...

     A “milonga” ficou ampla demais por aqui, eu sei... Peço perdão! Esse tema dá realmente uma boa Tese de Pós, de Doutorado ou de Mestrado (tomara que alguém tente - fica a sugestão: quero ler)... Mas é este, na verdade, um real desejo de bons rumos a um meio que nos viu nascer e nos fez, mas, por simplesmente e somente organizar eventos há tanto tempo, tem retirado, para fora do próprio, muitos e tantos militantes que querem e queriam fazer mais e mais por ele, alçando grandes voos, acerca da nossa cultura, principalmente na área da produção e da didática (meio hoje somente organizado por uma só Instituição, mas com "miles" e "miles" de Associados).

     “...Talvez, quem sabe, um dia, lá na frente!...”

     ...Para o bem dos que virão!

     Bons ventos ao ato de Cultuar, Ensinar e manter nossa gente e os nossos Símbolos... Puros, verdadeiros e tão nossos!!! 

     Sempre!!!

     E vamos de Bombacha, até a morte!!!

Diego Müller