Apesar das características físicas serem essencialmente as mesmas, o comportamento humano tem muitas diferenciações. Observe-se os povos e seus costumes no que se refere a vestuário, alimentação, habitação, convenções sociais, morais, etc. O homem aprende comportamentos, adquiridos e transmitidos. Quando nasce, encontra-se despreparado geneticamente para responder aos estímulos imediatos do meio ambiente, pois não tem condições de sobreviver e suprir suas necessidades básicas. Aprende a comer, falar, a andar e executar atividades que o capacitam a assumir o seu papel. Na infância e adolescência, recebe um aprendizado que o torna apto a conviver com o grupo do qual ele faz parte.
O homem reúne-se em grupos que, por seus meios e modos peculiares, poderíamos chamar de sociedades; por sua vez, estas formam um conjunto de conhecimentos, hábitos e costumes: a cultura. Assim, cada sociedade humana tem sua cultura.
Toda vez que o homem, através do tempo e em qualquer lugar da terra, descobre, constrói, modifica, inventa, desenvolve conhecimentos, está acumulando cultura.
Edward Tylor definiu cultura como aquele todo complexo de costumes, leis, arte, moral, religiões ou credos, como capacidades e hábitos desenvolvidos pelo homem como membro da sociedade.
Ashley Montiga já diz ser cultura a resposta para as necessidades do homem.
Herskovits nos ensina que cultura é a parte do ambiente feita pelo homem. Salienta-se, aqui, que não seria o ambiente natural, mas o sociocultural.
O homem detém categorias culturais diferenciadas dos outros animais: a tecnologia, a tradição, o progresso, o poder de pensar, racionalizar e refletir.
Vamos regredir no tempo supridas suas necessidades primárias (sobrevivência e procriação), o homem sentiu anseio de comunicar-se. Então, descobre a música, a mais antiga forma de linguagem, posteriormente, combina a música à fala na expressão única do canto, adaptando o aparelho respiratório e e ultrapassando suas limitações.
A esta altura, ritualista e místico, dominando diversas linguagens, o nosso homem moderno quer transmitir o que aprendera, surge a escrita. As descobertas, escrita rupreste ( rupestre é o termo que denomina as representações artísticas pré-históricas realizadas em paredes, tetos e outras superfícies de cavernas e abrigos rochosos, ou mesmo sobre superfícies rochosas ao ar livre), hieróglifos, artefatos, etc, dão-nos a visão do homem universal.
Do exposto, vimos que a cultura, embora tenha origem na capacidade mental, não é um processo isolado. Gonzaga de Mello esclarece que ela não será, com certeza, a simples soma de experiências individuais, interiorizadas em cada indivíduo da sociedade. É, antes, uma resultante dessas experiências, cristalizadas sob as mais variadas for mas como documentos, escritos, obras de arte, fitas magnéticas, fotos, filmes, etc. Um fato de fácil constatação é que um indivíduo, por mais "culto" que possa ser (no sentido de quantidade e intensidade de culturas aprendidas}, não consegue jamais conhecer toda a sua cultura.
Para Julieta de Andrade, a cultura existe na comunicação e manifesta-se em duas modalidades: a erudita, que procede do ensinamento direto, ministrado através das organizações intelectuais — universidades, academias, escolas, igrejas, imprensa, cinema, etc. Outra, a espontânea, é aprendida de maneira informal, na vivência do homem com seu semelhante, do nascimento à morte. Pela ação dessas moda/idades, surgem as culturas comerciais, de consumo: a popularesca, comumente chamada popular, e a cultura de massas, produzidas pelas grandes e complexas empresas.
Os fatos de cultura espontânea dizem respeito à Ciência do Folclore, ramo da Antropologia Cultural, que estuda as manifestações espontâneas do homem na sociedade letrada.
Sendo expressão de cultura popular, o folclore envolve todos os campos da atividade humana, tanto materiais como espirituais com seus ritos e lendas, histórias, provérbios, adivinhas e parlendas; danças, artes e artesanato, crenças e crendices. Manifesta-se na técnica da bordadeira, dos trançadores, dos arreieiros, na modelagem, cestaria e tecelagem artesanais; nas festas e folguedos em suas funções específicas; na homenagem aos santos padroeiros, nos ciclos natalinos, juninos.
É o acontecer de cada um, historiado nos ritos de passagem: batizado, comunhão, noivado, casamento... O aprender crescendo, exercitando o corpo e a a Ima na lúdica, nas rodas cantadas, onde os valores começam a se delinear; o ensaio da Infância no acalanto da bruxinha de pano ao futuro desempenho.
Ê fonte inesgotável que vivifica obras literárias e artísticas. Aproveitado na escola primária, o folclore contribui à formação psicossocial da criança pelo caráter de nacionalidade que imprime. A nível de segundo grau, conscientiza na medida de sua importância como cultura detentora de valores que devem ser respeitados e protegidos.
No curso superior, passa a ser estudado com maior profundidade, através de suas implicações antropológicas, sociológicas, psicológicas e estéticas.
Conhecendo, assim, os fatos de sua cultura espontânea, a sociedade estará melhor capacitada a reagir, face a descaracterização de seus usos e costumes.
Fonte: RS Aspectos do Folclore
Martins Livreiro Editor
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