terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Folclore na escola - por Neusa Secchi

    Torna-se cada vez maior nos meios educacionais as políticas de valorização da diversidade cultural e a inclusão de conteúdos sobre as culturas populares tradicionais como temas curriculares transversais.

     Entendemos que a "oralidade e a escola" são conceitos cuja aproximação tem sido problemática uma vez que a escola historicamente se consolidou como um dos templos do saber fixado pela escrita, o saber letrado das camadas sociais. Essa escola rejeita a cultura oral, tradicional própria dos povos agrafos - aqueles que não tiveram necessidades ou oportunidades históricas do desenvolver ou do servir-se da escrita.

     Ainda temos uma Escola padronizada, uma educação mais imposta pelas elites do que voltada para o saber popular. Nesta perspectiva nem sempre o saber popular é levado em consideração, ocasionando uma desqualificação da cultura popular e de seu valor enquanto instrumento e conteúdo a ser trabalhado na instituição escolar.

     Há um choque cultural entre a Escola e a Comunidade, pois os conhecimentos transmitidos preservam a hegemonia da cultura erudita como norma geral de comportamento social, desconsiderando os saberes produzidos e preservados pela comunidade: possui modo de vida, valores, crenças e hábitos próprios.

     Muitas escolas tratam tais manifestações, a identidade étnica, como conhecimento a ser sistematizado no transcorrer do currículo escolar de maneira superficial e em ocasiões comemorativas.

     O valor educativo do folclore não tem sido suficientemente aproveitado pela escola. As razões disso parecem estar na falta de conhecimento dos educadores sobre o assunto. Conhecimento estes que os educadores deveriam receber de forma sistemática em seu curso de formação, pois o risco de dispor-se a educar crianças e adolescentes sem dispensar atenção à bagagem cultural tradicional que trazem da sua família, num ensino dissociado da vida real.

     O Folclore é inerente a todas as camadas sociais, é vivenciado no cotidiano através da linguagem, vocábulos, ditos, gestos, alimentação, artesanato, brinquedos, brincadeiras, crendices, superstições, música, dança, etc. São aspectos básicos para o desenvolvimento da identidade regional que precisam ser resgatados e estudados pelo professor, com a finalidade de selecionar e adaptar como vai aplicar no processo de ensino aprendizagem.

     A escola é o ambiente propício para a aprendizagem da cultura tradicional do seu meio e obtida das mais diversas formas de divulgação e expressão no campo de ação material e imaterial, e na complexidade de suas dimensões históricas, geográficas e sociais.

     É preciso conscientizar os jovens da importância do conhecimento sobre nossas raízes e tradições, despertando o interesse em redescobrir e valorizar, tanto nas periferias, zonas rurais e urbanas, as belezas ancestrais guardadas na memória de nossos pais e avós.

     Despertar no aluno o gosto pelas coisas da comunidade que habita, apego aos usos e costumes locais para melhor compreender o passado cultural e histórico de seu povo.     

     O projeto pedagógico da escola é o documento que define quais são as intenções da escola, suas finalidades, objetivos e propostas que traçam a realização trabalho de qualidade e o desejo coletivo de todos os segmentos: Escola/Cultura Tradicional.

     Formar a prática pedagógica mais democrática e participativa, um currículo adequado à diversidade cultural e as necessidades da sua comunidade escolar.
Para que ocorra uma identidade cultural é preciso ter um currículo multicultural e que a linguagem seja a mesma sobre todos os segmentos que compõem o contexto escolar.

     Atualmente a legislação em vigor ampara iniciativas de elaboração de currículos capazes de contribuir para a construção de uma sociedade plural que contempla a diversidade cultural.

     O professor é importante como agente preservador da herança cultural, da tradição do seu povo. Ele soma cultura quando aprende com a criança suas canções, brincadeiras e transmite às outras, oportunizando situações de preservação.

     A iniciação da criança na escola deveria ser organizada de uma forma suave e afetiva, trazendo para o ambiente escolar o ensino formal oportunizado pela família e, em grande parte representado pelo Folclore: rodas cantadas, contos, fábulas, adivinhações, trava-línguas, dancinhas, recortes, dobraduras, confecções de mobílias, brincadeiras tradicionais.

     A Escola vem ampliando suas atividades e tarefas que eram da família. O estilo de vida nos grandes centros urbanos, dificuldades económicas, habitações com espaços reduzidos, necessidades do trabalho fora da mãe, colocam os pais uma convivência menor com os filhos e a escola vai suprindo as necessidades dessas lacunas. Oferece aos alunos a oportunidade de realizar atividades complementares artísticas, culturais, esportivas e lazer criando um vínculo Escola-Comunidade.

     Paulo Freire: "Educação deve ser integradora, integrando professores e alunos numa criação e recriação de conhecimentos comumente partilhados. O conhecimento atualmente é produzido longe das salas de aula, por pesquisadores, acadêmicos, livros didáticos e comissões oficiais de currículos, mas não é criada e recriada pelos estudantes e professores na sala de aula".


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